poema para quem o ler *
nesta mesa gasta pelas palavras em mundos, sujos
na chuva que nos lava os olhos, nas poças gritantes
ficámos pois assim sóis, despedida aos que buscam
quaisquer corações que nos morram, mães que partam
ou desta podridão capaz de borrar o céu de júbilo
sem azul que valha, condor, com dor respiramos
é por nos beijarmos ao fim da noite que é noite, do compasso
adiado das tormentas
que deixámos vestígios: um traço, pingos de sal
é porque o mundo mora ao lado que nessa mesa ficou
suspenso
com o triste velar da aurora crua
papelzinho que cheira a tinto
poema para quem o ler.
são marcos (junho de 2003)
* antologiado no site literário "agora ou nunca 9"
(Galiza, 2004)