poema para quem o ler *

nesta mesa gasta pelas palavras em mundos, sujos

na chuva que nos lava os olhos, nas poças gritantes

ficámos pois assim sóis, despedida aos que buscam

quaisquer corações que nos morram, mães que partam

ou desta podridão capaz de borrar o céu de júbilo

sem azul que valha, condor, com dor respiramos

é por nos beijarmos ao fim da noite que é noite, do compasso

adiado das tormentas

que deixámos vestígios: um traço, pingos de sal

é porque o mundo mora ao lado que nessa mesa ficou

suspenso

com o triste velar da aurora crua

papelzinho que cheira a tinto

poema para quem o ler.

são marcos (junho de 2003)

* antologiado no site literário "agora ou nunca 9"

(Galiza, 2004)

Nuno Trinta de Sá
Enviado por Nuno Trinta de Sá em 28/12/2005
Código do texto: T91399