antes que anoiteça
antes que anoiteça, que eu morra aqui, que sim,
antes disso, o instante flutua nos lábios do medo. é tarde.
antes do começo, antes de dizeres o sol, houve alguém
que cresceu depressa, em nova iorque um tipo é multado
por cuspir no chão. é o passo apertado, o sossego desenhado. agora, recordo o temor dos crepúsculos, sinais de meta à vista, os domingos com chantilly.
antes que anoiteças, lá fora, a vida corre por uma nesga (sempre quis acreditar em esquadras de poesia). o burlesco invade-nos então de sangue (de alergias múltiplas).
e achamos graça aos prédios mudos, ridículos. vendemo-nos por tuta e meia, já não há exércitos, só trapos de cores várias, vomitados de seivas (de florestas com selo
de qualidade).
antes que anoiteças, juramos perante a tua cerveja,
o teu esgar. antes que anoiteça, antes que anoiteças,
e que eu anoiteça, é tempo de partir.
see you later, espirro-buster, que fugimos os dois
do deserto.
são marcos (setembro de 2001)