antes que anoiteça

antes que anoiteça, que eu morra aqui, que sim,

antes disso, o instante flutua nos lábios do medo. é tarde.

antes do começo, antes de dizeres o sol, houve alguém

que cresceu depressa, em nova iorque um tipo é multado

por cuspir no chão. é o passo apertado, o sossego desenhado. agora, recordo o temor dos crepúsculos, sinais de meta à vista, os domingos com chantilly.

antes que anoiteças, lá fora, a vida corre por uma nesga (sempre quis acreditar em esquadras de poesia). o burlesco invade-nos então de sangue (de alergias múltiplas).

e achamos graça aos prédios mudos, ridículos. vendemo-nos por tuta e meia, já não há exércitos, só trapos de cores várias, vomitados de seivas (de florestas com selo

de qualidade).

antes que anoiteças, juramos perante a tua cerveja,

o teu esgar. antes que anoiteça, antes que anoiteças,

e que eu anoiteça, é tempo de partir.

see you later, espirro-buster, que fugimos os dois

do deserto.

são marcos (setembro de 2001)

Nuno Trinta de Sá
Enviado por Nuno Trinta de Sá em 28/12/2005
Código do texto: T91441