carta aberta ao mundo

eu já tive quarto sobre o futuro e desejei dormir na rua, cheirei a lixo e vi piano branco (japonês?) na penumbra

dos amantes, na cidade, ao longe.

como posso adivinhar todas as fugas plausíveis?

daqui envio carta aberta ao mundo, registada a despacho oficial de sangue e coração. só gostava de ser mais

que respirar ou não, só gostava de correr no vento.

e sentir o som escancarado.

sei que enquanto sentir ninho, sou capaz de não ser nómada

e que há azuis e rosas e verdes e castanhos e pretos

e vermelhos e amarelos e cinzentos e prateados e laranjas

e a própria cor do medo.

vislumbro sóis e jovens iniciados na desonra, mapas

de dicas e futuros por parar. olho para o mundo e nele me (re)vejo, a arquitectar conjecturas pálidas e girassóis

por cartas e luzilumes de sonho.

são marcos (23 de junho de 2001)

Nuno Trinta de Sá
Enviado por Nuno Trinta de Sá em 28/12/2005
Código do texto: T91484