Vritti & Nirvana *

Sexo e mantras – se não estiver a fim, cai fora! Curto e grosso – o tamanho não importa; o que importa é o prazer que proporciona. Vai doer, de qualquer jeito (todos nós sabemos disso)... Não há preliminares que amortize a dor, porque a dor e o prazer são duas faces de uma mesma moeda, como o belo e o feio, o amor e o ódio, a luz e a treva, o bem e o mal, o yin e o yang, sexo e mantras, o homem e a mulher, o homem ou a mulher, o homem-mulher, o falo e a fala, o pornô e a grafia, o talo e a tara, o tesão e a lesão: tudo, na vida, é múltiplo, é pluri, é cosmo. Doer é saber que o prazer existe e insiste em se esconder. Mas, nós, seres plurais, não desistimos jamais, e vamos atrás dele, à frente dele, por baixo dele, por cima dele, trepados nele, em todas as posições inimagináveis. Tudo por um gemido de menos de seis segundos... E a lacuna, o buraco, o ânus (sem ônus) continua lá...

- Oh, mundo mutilado, pangéia disforme, homúnculos intratáveis, almas sedentas e famintas, ávidas por um desejo incessante, perdidas na vontade errante, feridas pelo ego gritante de si mesmas... Querem um sonho do tamanho de seus pênis e vulvas! Querem abocetar o mundo e despirocar tudo! Querem lambuzar o céu de porra e gritar um orgasmo infindo aos quatro cantos...

Se já chegou até aqui, agora termina – sexo e mantras:

- Relaxa e goza, que a vida é uma incógnita.

* Vritti, para o budismo, é o movimento em ondas, o processo cíclico. Vritti é doloroso, apenas o nirvana pode nele pôr um fim. (extraído da obra Fragmentos de Um Discurso Amoroso, de Roland Barthes).