Triângulo de 4 Pontas

Todos por um – pirâmide, pentagrama, esquadros... Penso em todas as formas de estarmos juntos... Viajo incansavelmente horas e horas e horas para um estado de transe – tri – transcendental... Traço planos, crio esquemas, calculo o tempo e o espaço com as palavras e, ao invés de distância ou saudade, sou só vontade e paixão. Minhas mãos escrevem seus nomes na areia da praia e espero a marola tocar-lhes o ‘ J ’, para que a presença de vocês se manifeste numa gota d’ água ou num grão de areia... Da pedra, assisto o sol se pôr na linha intocável, a lua emergir do mar imenso, e a estrela mais bonita despontar no céu já negro... Eu, totalmente recôndito, escrevo-lhes poemas de anoitecer e, quando se enche o mar, espalho-os pelas águas, em garrafas bem lacradas, deixando-os à mercê do oceano. Elas partem, pequenos navios sem proa, sem popa, sem leme, mas, cais. Naus em vós, ancoradas para sempre, bem guardadas nos portos de vossas almas. E elas voltam: vossas naus, em mim ancoradas para sempre, bem guardadas no porto de minha alma - navegantes de um triângulo sem bermudas...

Amanhece e venho à tona, e torno a vê-los à beira da minha cama... Olham para mim como quem olha a própria imagem – querendo sê-la, mas sem sucesso... Depois, desperto, abro a janela e repito o gesto: mais poemas vão-se ao meu bocejo, um grito surdo, um realejo que não toca o que mais quero. Espero o café que jamais saboreio. Não sei se canto, se escrevo, se leio, não quero nada, só teu seio, e quase nada veio... Da noite passada, não esqueço... Quero a curva da lua – onde, meu leito? Quero a ponta da estrela – onde, meu verso? Quero a presença do mar – onde me vejo? Tenho três ângulos e não me contento. Tenho três pontas e nunca me alcanço. Tenho três nomes e não me conheço.

E, quando me meço, sou imenso...

P.S. Devo este título, a Celso Filho, velho amigo. Por favor, não fique bravo por tê-lo usurpado de você...

Teco Sodré
Enviado por Teco Sodré em 27/03/2008
Reeditado em 07/04/2010
Código do texto: T918803
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