Sombra de Variação

Eu, na minha janela – outra vista. Outros sonhos estão por vir, eu sei... A cama é a mesma, o quarto é ainda meu, e a luz da lua tem o mesmo brilho... Mas, a vista é outra. Corro para lá sempre que os sonhos doem... E, muitas vezes, os sonhos doem – o intangível é pleno em dor, e nunca parece ser ruim demais querê-lo. Entretanto, eu nunca duvidei de mim mesmo e sempre me senti disposto a sonhar com os olhos bem abertos...

A escolha é a chave – morango ou chocolate, praia ou campo, verão ou inverno, menino ou menina, Michael Jackson ou Madonna, direita ou esquerda, ser ou não ser... Pêra, uva, maçã, salada mista... Sem pista. Outra vista: a lista é imensa, mas nossas mentes, sempre antagônicas, resolvem tudo na dialética mais chinfrim, resumem tudo em Darth Vader e Luke Skywalker.

Quero outros sonhos, daqueles que ainda estão por vir... Daqueles que estão à minha espreita, nas esquinas... Daqueles que descansam à beira das piscinas... Daqueles que se escondem em páginas intactas... Daqueles que rechaçam as convicções inatas... E, penso em vocês, quando escrevo isso – vocês que não entendem o que eu escrevo, cuja compreensão limitada percebe apenas o que seus olhos enxergam (e eles não enxergam nada dentro). Penso em vocês quando vejo a dança do mundo, as coisas perdendo o rumo, as pessoas achando tudo esquisito, e os sonhos sorrindo de tudo e de todos, num riso mudo e infindo, desejando que o ruído atinja-nos no peito frágil e sempre comprimido. Penso nas tuas falsas modéstias, nas tuas pseudo-justiças, nos teus abandonos irremediáveis, nas tuas posturas insípidas em achar que é maior que a própria vida... (pessoas assim não morrem logo, mas vêem o mundo evoluir, vêem os outros melhorarem e crescerem, e se casarem, e terem filhos e morrerem felizes – pessoas assim desintegram de inveja).

Eu escolhi a dança que o mundo me ensina a cada dia: esse caos despropositado, essa bagunça sem sentido (que faz sentido de repente, quando menos se espera), esses passos mal-dados, mal-ensaiados, ridículos...

Eu escolhi perdoar, retroceder, dialogar, me arrepender, perder, rir de mim mesmo e pedir desculpas. Eu escolhi a janela mais larga, o quarto mais claro, a lua mais alta, o poste mais próximo. Eu escolhi a vida inteira pela frente. Quando a gente muda, uma luz se ascende não se sabe como, nem se sabe onde...

Mas, a certeza da clareza já está de bom tamanho.