A COLHER

A COLHER

Já não sei mais o que dizes de mim. Se canta meus versos. Se encanta meus versos. Se encanta cantar sobre a minha voz que ecoa num brado de pacificação. Diz o que quiseres de mim, mas diga de boa forma, pois a forma é importante. Diz de mim que sou côncava, que sou arredondada, que sou degustada deliciosamente na sobremesa das palavras. Diz que meu símbolo é a colher que recolhe na sopa de letras, o mais puro dos meus sentimentos. E que leva à sua boca o gosto doce do necessário, mas nem tanto, conhecimento. Diz que me pareço com aquela que vai à direita na mesa, disposta como guardiã do prato vazio, que se enche de suculenta substância.

Diz de mim que sou colher. Diz de mim que sou mulher. Diz de mim que me exponho como as entranhas do sapo. Diz de mim que mexo a panela das consciências fechadas e agarradas em falta de ideais.

Diz de mim simplesmente, o simples, pois o complicado deixe para a faca que é obrigada a destroçar a carne.

Diz de mim somente que sou alguém que põe num fundo amarelo, aquilo que sente para aquele que lê. O ser humano que quero bem.

Alma Collins
Enviado por Alma Collins em 29/03/2008
Código do texto: T921644