Happy End no Circuito Alternativo

Foi como um filme: luzes apagadas para não ofuscar o brilho dos nossos olhos; uma bela fotografia à nossa frente (uma bola incandescente que desamarelava, aos poucos, mergulhando em águas cristalinas); a trilha sonora do mar, escalando as pedras, vindo espiar nosso encontro; violinos mudos, peixes surdos, flores sem cheiro – toda a magia dos sentidos residiu naquele beijo. Nosso hálito, nosso gosto, nosso tato, nosso feito, pulsando forte em nosso peito – um coração assaz pequeno para tanto sentimento.

Não conseguia te olhar e não sorrir... Não conseguia não pedir tua mão em casamento... Não conseguia não imaginar meus filhos sem teus traços e trejeitos... Não conseguia não me sentir estreito – meu corpo miúdo não suportou a alma se elastecendo... Não conseguia me desprender do nosso roteiro... Naquele momento, fui a flor inodora, fui o peixe ignóbil, fui o violino estéril, fui o mar absorto em suas próprias ondas, fui o sol alaranjado que dizia adeus para voltar em breve, e fui o nosso beijo, eterno em minha mente. Como num filme, foi o clímax do enredo...

Eu não sabia o que fazia com meus dedos: se te tocavam ou se deixavam os teus prendê-los... Eu não sabia o que fazer com meus anseios: te levar pra casa, te deixar sem ar, te glorificar, te tirar pra dançar comigo ali, frente ao mar, às pedras, às flores, aos peixes, aos violinos, ao sol-se-pondo – agora, nossos espectadores furtivos – e nós dois, o filme mais comentado do circuito alternativo.

Tenho para mim que sou meu próprio público. Se assim for, o nosso filme merece os meus aplausos e o meu melhor conceito.