A AFOGAR O MEDO
Deste mel que me banha, aceso
Deste silvo que recai em consciência minha
Tenho medo.
Pela manhã resinosa, através da imagem inimiga
Pelas ruelas e azinhagas grudentas; gruas a decolar
Juro que tenho medo.
Se não me fossem fiéis os pêlos do meu braço esquerdo
Se não ardessem em febre minhas pupilas ensangüentadas
Teria eu, inda mais medo.
Por mais alarida e insossa que a vida seja – e será inda mais
Por mais solos nascidos de almas a tocar suas trovas
Por mais limo e perárduo coro a me tolher os momentos
Inda assim, sigo ereto – com veias dilatadas e com toda a carga ilusória.
Sem as lápides a brilhar na espera
Sem a suma e moribunda haste a me matar de inveja
Por mais que tente amigo meu, dentro do espelho
A me impelir com ódios dominicais e sob asas embuchadas
Respiro lenta e desleixadamente.
Sobre o couro do sofá, sob a penumbra dos cristais
Ouço os mesmos toques refinados a se alojarem nas cristas
Outrora, estava eu com medo...
Bobagem!
Larguei-o cedo, às algemas, do outro lado do riacho, à riba com suas rugas
Agora, deste lado, na mansidão, eu e o destilado.