A AFOGAR O MEDO

Deste mel que me banha, aceso

Deste silvo que recai em consciência minha

Tenho medo.

Pela manhã resinosa, através da imagem inimiga

Pelas ruelas e azinhagas grudentas; gruas a decolar

Juro que tenho medo.

Se não me fossem fiéis os pêlos do meu braço esquerdo

Se não ardessem em febre minhas pupilas ensangüentadas

Teria eu, inda mais medo.

Por mais alarida e insossa que a vida seja – e será inda mais

Por mais solos nascidos de almas a tocar suas trovas

Por mais limo e perárduo coro a me tolher os momentos

Inda assim, sigo ereto – com veias dilatadas e com toda a carga ilusória.

Sem as lápides a brilhar na espera

Sem a suma e moribunda haste a me matar de inveja

Por mais que tente amigo meu, dentro do espelho

A me impelir com ódios dominicais e sob asas embuchadas

Respiro lenta e desleixadamente.

Sobre o couro do sofá, sob a penumbra dos cristais

Ouço os mesmos toques refinados a se alojarem nas cristas

Outrora, estava eu com medo...

Bobagem!

Larguei-o cedo, às algemas, do outro lado do riacho, à riba com suas rugas

Agora, deste lado, na mansidão, eu e o destilado.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/04/2008
Reeditado em 23/04/2008
Código do texto: T938303
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