Queda

Mas o que pode um deus decaído, milênios depois de toda a razão tomar conta do pensamento? Apenas se arrastar com seu caduceu enferrujado e colocar meia sola em suas sandálias aladas.

Por muito tempo, nem mesmo o Deus único, pôde ser lembrado ou glorificado, porque ha muito que nem mesmo a razão impera. E o que se há de fazer em um mundo em que os deuses assumiram a forma do mesmo negrume que quase matou a história? Nada além de esperar que o pecado seja abolido. E assim assassinar a tudo e a todos, em nome da bestialidade que os ex-fiéis tanto insistem em chamar de liberdade.

O que pode então apenas um deus de pouca agilidade, e que antes corria o mundo num piscar de olhos, ou um Deus, que sendo onipresente, assiste aos fatos com temor e tristeza? Nada, porque o homem de pouca esperança se entregou à dissimulção e ao cinismo.

É por isso que onde antes havia um castelo, hoje há ruínas e ossos de gigantes antigos. Ou deusas velhas que perderam sua beleza e altivêz.

O Deus que projetou o universos, assiste perplexo, ainda assim, ao apelo do mal que consome a alma atormentada do mundo, impassível porque a liberdade é feita de escolhas.

O que pode um resto de Fé, escondido vergonhosamente, sob o manto da ironia? Apenas uma oração, no escuro mais recôndito de uma alcova, esperando uma tempestada passar. Apenas subir como a fumaça de uma vela apagada, enquanto cães imensos espreitam a mais ínfma manifestação de pureza.

Eis-me aqui, e eis o mundo que nos foi entregue. Não adiantou sacrifício nem mesmo complacência.

E em todo lugar nesse momento, continua-se a nascer e a morrer, e como uma grande produção em séria de céticos, o mundo vai girando, o universo se expandindo e o homem, morrendo definitivamente.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 10/04/2008
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