JANELAS D'ALMA
Basto-me
E enquanto me bastar, seguirei a escrever
Sem platéia, louros ou alcatéias...
De bobos, de reles
A plagiar, a se embeber da mais concreta hipocrisia.
Basto-me e me completo por amar, desmesuradamente
Na loja agridoce do pecado, meus versos se exterminam...
Sem críticas, velas ou merecimento
Bastar-me-ei sempre enquanto escrever assim
Desta forma luzidia, pungente e sofisticada.
A mim, não interessam as letras murchas
Não me primo em ojerizar as caras enlutadas dos meus invisíveis afãs
Não hão em livros, não haverá, nem amanhã
Sempre assumo minha torrente literária, nunca acorrentado
Com a ponta do peito solta nesta boreal existência.
É fato que me basto!
Pela lógica com que o relógio pula
Em todas as casas de telhados de inverdades, logro-me
Persuasão me policia a não estancar meu menu de chorume
E não secará, nem em tela, meu pascigo, mesmo flamejante.
Basto-me pela altivez mais alva da aura desumana
Por manter e por nutrir exímia má impressão nas rodas de amigos
– prefiro os meandros e as ruelas da viva roda –
E, primordialmente, por atravessar as paredes com as janelas d’alma.