JANELAS D'ALMA

Basto-me

E enquanto me bastar, seguirei a escrever

Sem platéia, louros ou alcatéias...

De bobos, de reles

A plagiar, a se embeber da mais concreta hipocrisia.

Basto-me e me completo por amar, desmesuradamente

Na loja agridoce do pecado, meus versos se exterminam...

Sem críticas, velas ou merecimento

Bastar-me-ei sempre enquanto escrever assim

Desta forma luzidia, pungente e sofisticada.

A mim, não interessam as letras murchas

Não me primo em ojerizar as caras enlutadas dos meus invisíveis afãs

Não hão em livros, não haverá, nem amanhã

Sempre assumo minha torrente literária, nunca acorrentado

Com a ponta do peito solta nesta boreal existência.

É fato que me basto!

Pela lógica com que o relógio pula

Em todas as casas de telhados de inverdades, logro-me

Persuasão me policia a não estancar meu menu de chorume

E não secará, nem em tela, meu pascigo, mesmo flamejante.

Basto-me pela altivez mais alva da aura desumana

Por manter e por nutrir exímia má impressão nas rodas de amigos

– prefiro os meandros e as ruelas da viva roda –

E, primordialmente, por atravessar as paredes com as janelas d’alma.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 16/04/2008
Reeditado em 23/04/2008
Código do texto: T948603
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