Lua Nova
A noite era velha.
Desculpa, mas se eu ficasse aqui eles chegariam e te entregariam pra policia. Policia não existe, falou com tom niilista. Existe sim, e espreita e espia. Desculpa. Tenho que ir.
E partiu assim, cambaleando, como quem se esconde pelas sombras dos becos. Como quem bebe e escora as paredes. Se não fossem os bêbados, a cidade cairia. De cara no chão. Ficou olhando e acendeu uma brasa de fumo, se eu esperasse aqui talvez voltasse, mas não posso imaginar se seria assim a história. Não posso mesmo. Nem ficar aqui, porque se a polícia existir, ela chega e me leva, e aí eu daria razão e nunca mais voltaria. E sairia andando pelas paredes, igualzinho como fizera, pretérito-mais-que-perfeito, porque já faz tanto tempo que partiu e eu nem reparei como o tempo passa quando a gente pensa.
O vento fumou a brasa. Tem uma lua, mas a fumaça do cigarro tapa a noite. Só vejo as paredes e quem sabe se eu esperar a lua talvez ela volte e espalhe todo o fumo e se mostre nova. Lua nova