Fotografias de Areia

Esses dias me encontrei com a praia. Chovia. Não há nada que eu goste mais no mundo do que mar. E chovia. Quando parava eu ia pro mar, só pra olhar a água se juntar ao céu. E o sol... Tinha ela, mas era fotografias em sépia, e eu não sabia muito quando podia tocá-la, ou quando revelar as fotos de seus brincos. Negativos beijos ou fotos antigas de hoje. A onda batia em meus pés descalços. Areia, espuma. Sorria feito criança na gangorra, mas tudo podia não passar de lembranças; todas as fotos são lembranças, e quando a gente envelhece no tempo todas as lembranças soam como hoje. E hoje eu amava. Em fotografias de areia, mas amava.

Então veio a onda e levou-me o tempo. As lembranças ficam como castelos de areia invencíveis, mas o amor é como a chuva. E a vida. A vida é um coração desenhado na areia. A morte é uma onda.

Então eu sento na praia e olho a chuva revoltar meu mar. A chuva, o vento, o mar. Tudo busca a areia e apaga todas as nossas pegadas. Pegadas de mãos dadas. O céu desaba em gotas, e o castelo de mim vira areia. Só as fotos são eternas.

Meu amor é fotografia.

Gustavo Alvaro
Enviado por Gustavo Alvaro em 26/04/2008
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T963223
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