Tintas Poluídas

Maquiar o tempo, tentando subornar-lo ou anular “momentos” onde o equilíbrio se perde e a fúria domina a cena, são dramas sem representantes com atores fingindo as mais pérfidas defesas.

Numa breve pesquisa sobre ás páginas da história não é preciso muito pra ver transbordar todos os oceanos com sangue inocente. Relatar as vítimas ocuparia o todo o espaço ofuscando seus astros e mais além.

Cabe a população gritar, ultrapassando o volume da insatisfação, contra os que erram sem moderação com deliberação, que vão sem um grama de consciência desbotando o azul do céu que a cada novo amanhecer carece de atitudes humanas, porque não “racional”?

Sim a cada instante as estatísticas somam novas tragédias ou mais tragédias, novos ângulos de intensificar a dor, de cortar sem nenhuma anestesia pedaços da alma.

É filho matando pai, pais arremessando de alturas impossíveis os filhos da fornicação. É um processo doloroso da degradação humana.

O homem* mata para saciar seus desejos mais nojentos, de ferir de oprimir, torturar ou degustar o ódio do veneno que circula nas veias, destes que cultuam nada mais que os próprios interesses e são incapazes de pisar no solo do arrependimento e de pintar o futuro sem as tintas poluídas da mentira.

O sorriso, idioma perfeito, era estampado nas fotos da menina de nome Isabella, eram estampados também os sonhos soltos sem muita forma desprovidos de interesses, hoje esses já jazem num metro limitado da terra que cobre e desfigura.

E o tempo cúmplice da memória carrega verdades que machucam ouvir, e são difíceis de aceitar, pois em meio à covardia, o dinheiro tenta fazer da justiça uma casa fraca surda e cega e trata sua inteligência como uma massa escura e débil.

*homem= tanto homens como mulheres. a insensibilidade não tem gêneros.

Jane Krist

São Paulo, 31 de Abril 2008. Noite fria, e eu no meu quarto entre chá café e poesias...

Deixo aos olhos que aqui lerem, este poema que atravessa as noites como um vento frio e nos faz alertas.

Congresso internacional do medo

Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.