TORTURA

O meu receio é que não me entendam.

Amar, é adiar a sede, a fome,

A viagem, o divertimento,

É comer a carne, o pão, o pó, o vento,

É se lembrar do esquecimento

E ter seu nome no meu pensamento.

Amar, é beber a saliva e a água do mar,

É enrolar uma corda no pescoço,

E tentar se matar,

É ter um pesadelo e não conseguir acordar.

É ter um segredo e querer revelar.

Amar, é ter ódio da vida,

Esperar cicatrizar a própria ferida.

Amar, é andar sozinho na madrugada,

É entrar sempre na casa errada,

É esperar sentado pela mulher amada,

(encher a cara dela de porrada)

E depois botar o pé na estrada.

Amar, é sair em vão desta tortura,

É procurar à toa essa criatura.

Tentar achar um pouco de ternura,

Nessa carne virgem e pura.

Amar, é ter um pouco de sorte,

Não se encontrar na esquina com a morte,

Mostrar que posso ser forte

E ferir o meu rosto com um corte.

Amar, é não querer lutar sozinho,

É seguir em frente, achar o caminho,

Pegar a flor, tirar o espinho,

E procurar alguém

Que me dê carinho.

Sérgio Corrêa
Enviado por Sérgio Corrêa em 11/01/2006
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