É de Manhã

É de manhã, finalmente consigo ver a luz do sol.

Tanto tempo no breu, na escuridão, a procura de pelo menos um raio luminoso para guiar-me em minha jornada.

Confesso que até já tinha me esquecido de como é belo e mágico o dia, com suas cores, esse cheiro de orvalho, esse céu tão azul.

Estava em um blackout permanente, isolado, esquecido por mim mesmo.

Pupilas dilatadas, mãos trêmulas e joelhos esfolados a procura de um caminho, uma saída, um milagre.

Não via sequer o meu próprio corpo.

E o silêncio, aquele gigante que me fazia sucumbir com seu vazio infinito...

Não conseguia falar, não conseguia sequer pensar, apenas estava ali.

Estava quase conformado, quando fui surpreendido por um pequeno feixe de luz que foi aumentando, aumentando, chegando quase a me cegar.

Fechei imediatamente os olhos, mas conseguia sentir o calor daquela luz, que em poucos minutos transformou-se em dia, trazendo consigo o som das águas, dos pássaros, da vida novamente.

Sinto-me fortalecido! Renascido das minhas próprias cinzas e vencedor dos meus próprios fantasmas.

Por mais longa e tenebrosa que seja a noite, o dia sempre vem.

José Abbade, in BAGAGEM DE MÃO - poesia em verso e prosa,

Editora CEPA, Salvador, 2007