ESTE AMOR NÃO É MEU

Não suporto a verossimilhança entre certos andares

Não compreendo as limas que cerceiam vãos olhares

Não tolero as emendas que tolhem os sonetos.

Sufrago pela face dolorosa do amor – reles e orgulhosa

Meus apêndices e minhas dunas sentimentais ladram à lua

Rosas lesas de caules argutos, coisas e tais.

Amputo todos os verbos nascentes e hipócritas

Não os digo, pois são tão fáceis; não os declamo, não são maus

Apenas glorifico médias cotas estapafúrdias e piegas.

Os versos açucarados são torneados a sete mãos

Cinco, pertencem aos céus; uma, à alma do autor, e a outra...

Ah, a outra!

Queria ser nuvem a abdicar desta ardilosa explicação

Primeiramente, por ser simples como o universo – e tenra como o verso

Ademais, arde acaloradamente na latrina dum precipício chamado amor.

E diante desta e de outra, ouso me abster...

Embora fato, como o musaranho que da toca sai:

Não é meu!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 05/05/2008
Código do texto: T975751
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