01-Prompt

Ele é o ponto.

Um elemento isolado junto a outros pontos incomunicáveis, que um dia se metamorfoseou em homem. Uma nulidade traduzida em fases com menos de 4 palavras, alguma polidêz, e um tanto de tédio e falta de paixão.

Ele é indiferente a tudo, porque o tudo também é indiferente a ele, na medida em que, se morresse, não faria falta alguma, porque é inútil, não pinta as paredes de sua caverna com bisões, nem ousa mais do que o que lhe convém para sobreviver.

A cidade é um impecilho constante. Há muitas pessoas de quem se desviar, muitos carros, muitos muros de vidro ou concreto, para separar o ar condicionado do mundo. E se o mundo se tornou milhares de boxes refrigerados, não causa interesse ou estranheza, nem emoção nem inspiração.

Mal do homem ponto, que tenta até se estrebuchar, com um sorrisinho cruel no canto da boca, se arrastando comedidamente por essas vias asfaltadas, que alguém convenientemente chamou de civilização.

Civilização oriunda do medo. O medo do que há de mais animalesco e perturbador no homem ponto, desimportante.

Mais um dia ou menos um dia não faz diferença. Porque o tempo é medido de maneira errada, segundo o ponto. O tempo não é nada, e serve apenas para dar uma vaga idéia da extensão do sofrimento e da angústia, de uma noite inteira acordado, com vários cigarros acesos, ou de um dia impossível de ser levado tolerado em um cubo congelado, em frente um computador, com centenas de copos de café do lado.

Seus olhos parecem vidro esmigalhado, com nuances de um vermelho esmaecido pelo ódio, que não se sabe de onde vem, mas que recai sobre qualquer um que seja um pouco mais fraco, menos apto para viver na polida civilização.

Ele é o ponto. Ele é o que se convencionou chamar de homem. Ele carrega em si todos os problemas e soluções do mundo, mas parece que não se sente confortável em saber que não precisa de nada disso. E isso, porque ele tomou conhecimento da mortalidade e da volubilidade de suas vaidades tolas. Tão tolas quanto a sua necessidade de fazer a barba de manhã, para parecer apresentável no escritório.

O ponto pede desculpas ao mundo, pelas pauladas que este mesmo mundo lhe desferiu. O homem se sente culpado pela maldade alheia. Não por sua própria. E até que ponto, este homem tão comum e prosaico espera ir?

O ponto, o homem ponto, não é bom de respostas.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 05/05/2008
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