Ah, chuva...

Ah, chuva que molha o asfalto e lava a sujeira do mundo...

Pudesse o homem fazer o mesmo consigo no seu íntimo mais profundo...

Se isso fizesse por certo ele sorriria muito mais,

Já não sacrificaria sua vida com coisas fúteis...

Isso seria um progresso imenso, pois o próximo não choraria mais...

O homem se ocupa demais com quimera inúteis...

O mundo seria tão diferente se déssemos razão a razão...

É tão óbvio que estamos aqui porque temos um único coração...

Corrompemos nossas próprias promessas e falseamos nossas atitudes,

Egoisticamente alteramos o ato grandioso de estender as mãos...

Hoje quem estende as mãos são mendigos vítimas de suas inquietudes...

Deixamos de estender as mãos para auxiliar, esquecemos que somos irmãos.

Ah, chuva que molha o asfalto, parece que o mundo chora

De tanta dor e abandono com que o afligem nessa hora...

A fome domina o olhar das crianças, a revolta o coração de seus pais...

O mundo está ferido, sangue escorre da lâmina de um navalha,

Vidas renascem e retornam sem encontrar o amor jamais...

O que se vê são poucos sob seus tetos de ouro e muitos sobre a palha...

Nos perdemos nas trilhas dos caminhos que nós mesmos criamos,

Não temos conosco o julgamento que aos outros sentenciamos...

Agora mesmo alguém é vítima a sofrer por culpa de algum de nós,

Somos nossos próprios carrascos, estamos juntos aqui, ao mesmo tempo sós!

Quem de nós se lembra de agradecer casa, roupa e comida?

Quando nos lembramos de Deus é porque queremos pedir, rogar...

Rogar por excessos disfarçados de necessidade. Nunca agradecemos a vida!

Ah, chuva que molha o asfalto, és como as lágrimas dos oprimidos

Escorrendo pela face cansada de tantos sonhos frustrados, perdidos...

Ah, chuva! Teu destino no mundo é regar as sementes da Vida,

É fazer brotar a fartura onde existe o vazio triste da fome...

Que tu possas ao cair lavar nossa alma ferida,

Nos ensinar a Esperança sem distinção de raça, credo ou nome...

Que nós possamos através desse teu exemplo admirá-la,

Que possamos com o calor dos teus frutos secá-la

E que possamos com o suor derramado em nossas lutas renová-la...

Sandro La Luna
Enviado por Sandro La Luna em 07/05/2008
Reeditado em 21/07/2019
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