Risco

Tenho em mim o desejo de desvendar os mistérios da humanidade. Retirar todas as máscaras que escondem e fingem proteger as pessoas umas das outras.

Sou condenado por expor o que sinto;

Sou traído por minha própria franqueza, mas não desisto.

Continuo me transparecendo em sentimentos, intenções e desejos.

Seria muito covarde e simplesmente impossível reter essa fonte incessante de afeto e carinho e amor e saudade e esperança que trago em meu peito.

Externo todo o sentimento contido para mais tarde não me tornar uma caldeira purgadora de arrependimentos e frustrações.

Me ofereço inteiro, nu e cristalino, pois é assim que vivo.

De outra maneira, eu não seria exatamente Eu.

A vida está aí para isso:

Tentar, tentar e tentar.

Tenho pena de quem desiste na primeira encruzilhada, no primeiro “talvez” e prefere adotar o “não” como uma bela máscara que o impeça de sofrer. Sofrimento maior é de quem sucumbe ao medo e fica estagnado, pára no tempo e, o que é inevitável, perde a sua identidade.

Por mais que me arrisque, por mais que mergulhe nas possibilidades, ainda assim continuo tentando, até achar o que realmente aspiro, que não sei onde está, mas certamente saberei o que é, quando o for.

Como diz a “poeta”: Quem sabe o que procura, compreende o que encontra.” *

*Frase de Elisa Lucinda

José Abbade, in BAGAGEM DE MÃO - poesia em verso e prosa,

Editora CEPA, Salvador, 2007