POBRES VERSOS

Só por ti, verso meu

Em ti, encontro meu porto mais vago e casto em mulheres de saia

Não saia!

Tenho as mundanas vozes corrompendo meu ‘eu’ séquido

Lendas e açoites que brotam da noite; enterram-me, macérrimos

Mar de misericórdia; brácteas a me socorrer

[nenhuma áurea a me proteger, a me reverenciar].

Oculto sou, neste qüingentésimo verso de abóbora ou de bronze

Nada irá, um dia, tripudiar sobre minhas galochas de prata... Nada!

Sou timoneiro e barco à deriva... Sou da lua, enquanto o luar duvida

Sou de rir, não sou de brincar

Nas minhas vestes pútridas e assumidas, encontro-me com a dor

Contudo, não falarei de dor... Falarei da rima na qual o poeta amou

E ama, desmesuradamente, até os dentes de aço rangerem... o olor.

Vida brava, fruto do nada

Tenho o capacho que me conforta e suporta o vômito

Lenho em seivas distantes a correr pelo emaranhado de pêlos

Quanto desvelo! Porquanto, apelo!

Rezo aos cantos dum manto santo no lado esquerdo do meu uísque evaporado

Ontem, lá na botelha, havia nuvens e artilharias

Tenho agora, meu súdito a esmerilhar.

Leio na alma velha e atormentada, flores de quintal

Versos de alicate que prendem sem o preso querer serem-lo

Sem o peso ser zelo; a lembrar

A usufruir nos tempos duma história marcada

Quando, agora, no dia de hoje, dou-lhe o qüingentésimo verso de azeite

Que tem esmero, escamas, silo, mas não tem escola.

Ao porvir duma prata brilhante

Reluzirá ouro em idade avançada... Daí, a espada

Com ela, leitor, ceifarei todo o mal que me abate nessas noites de alcova

E, assim, encolherei meus tentáculos a nunca mais expô-los ao nada

Em vez da solidão que maltrata, a muda de pele que veste a praga e se ajeita no instante

Por séculos e séculos a fazer perpetuar meus pobres versos.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/05/2008
Reeditado em 09/05/2008
Código do texto: T982735
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