AS PÁS DO TEMPO

Às vésperas da pulverização marmórea

Que caos me traz este emoldurado sentimento?

Hora marcado pela dor – com tudo que chora

Hora tardia lograda pelo ódio de amar.

Crenças do confucionismo

Uma pêra em calda de lágrimas: um alento

São mais minhas as fuligens que impregnam o corpo

Que das vaidades a desocupar a mente pescadeira.

Não há nuvem, por mais escassa que ouse desfilar

Não há mais o lodo rançoso que o medo de passar

Em ti, caleidoscópio itinerante, ancoro meus pensamentos

Movendo-me ao céu, à ufa, à uma alma deslumbrada e pesarosa.

Em meu instante célere, a precisão de que preciso

É o ás ocultado em mangas salinas, em sardas alegres

Quando o colibri – por dentro destas linhas infames –

Assoviará à janela em momento de êxtase, fazendo-me inchar.

Esse inchaço reduzirá o fleimão pungente [e pensante]

Ordenará ao sonho que jogue mais uma vez a velha rede

Esta, por vez de fazer ouvir, abrirá mais uma porção de desordenados rombos

E estes... Ah, estes!

Seguirão movendo, desmesuradamente, as eloqüentes pás do tempo.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 12/05/2008
Código do texto: T986430
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