Afrodite

Aonde deves estar agora? Correndo pela rua, caçando fantasmas pelo ar, aconchegada em um canto ou seguindo com o olhar o novo dono que te impus?

Quando eu saia e demorava, reclamavas minha ausência, arranhando minha cama, olhando-me azul acusadora, cansada. O nome que te dei, senti no seu olhar; era infinito. Tínhamos uma cumplicidade felina de amor. Falávamos com os olhos. Você entendia. Eu, é que às vezes não.

Mas depois tive que ir embora. Outras cidades, outros rumos. Quis viver com uma mochila nas costas e dentro dela você não cabia. Entreguei-te, não sem chorar, mas fiz.

Ligava diariamente pra saber de ti, mas a última notícia que tive foi que você tinha fugido. Talvez correndo atrás do fio do novelo de lã, pensando seguir a trilha para casa.

Agora que retorno, a casa vazia, queria que só num ronronar me dissesse: onde andam seus olhos?