Sublimes momentos fugazes

Prólogo: aconteceu em Campina Grande, João Pessoa, Fernando de Noronha, Rio de Janeiro e Brasília. Nostálgicos, hoje vivemos como irmãos fraternos. Cultuamos a convivência em harmonia sublimando a condescendência para atingirmos o merecido ápice do nirvana espiritual.

Eu imaginava ser a essência da sublimidade angelical o nosso amor profano. Qual ledo engano! Pulsava dentro de nós apenas uma paixão mundana, neurótica, doentia, insana.

À luz de todos, carente de bases sólidas na representação de virtudes não cultuadas, ausentes por opção ou ignorância sentimental, vivíamos uma ilusão nefasta, tal qual presságio de tragédias.

Insipientes por inocência, bendizíamos os momentos alegres, fugazes, em que nos encontrávamos sempre às escondidas. Nessas ocasiões, às vezes, em locais inóspitos, nossas fomes, carências e curiosidades conduziam-nos à degeneração acentuada dos nossos instintos, quiçá primitivos, não compreendidos pela maioria absoluta dos inúmeros e benquistos casais.

O sadomasoquismo, que os hipócritas chamam de doença social e/ou aberração crônica, por nós sempre foi cultuado de forma natural, espontânea e prazerosa porque nunca nos excedíamos. Sabíamos nossos limites e jamais tentamos ultrapassar a linha inconsútil que delineia, tornando estanque, a realidade da sublime fantasia contextual.

Um sol esplendido, argentado, aureolado por gotículas de luz prateada iluminava os nossos dias de borrasca tão comuns na convivência íntima, humana, interpessoal.

À noite, naquele humilde e aconchegante casebre, próximo das falésias, pouco distante do quebra-mar, ouviam as ondas em coro, tal qual murmurante queixume, nossos suspiros de anseios planejados para a busca na madrugada fria, dos nossos prazeres excelsos, tal qual ideologia revolucionária, insólita, considerados mórbidos e insanos sob a ótica da maioria dos mortais.

Após o folguedo da madrugada breve, ainda estávamos abraçados, extasiados, semi-adormecidos. O esvoaçar e gorjeio dos pássaros marinhos nos despertavam em languidez nostálgica e contagiante.

Um repasto a base de frutos maduros e peixe grelhado nos esperava. Eram as sobras de um jantar frugal que nos deixaram sedentos de paixão e amor tresloucado, fraternas atitudes e emoções carnais acentuadas.

O ar iodado era o incremento forte, selvagem, testemunho do afoguear dos instintos nobres e primitivos dos amantes felizes que viviam apenas de inesperados e sublimes momentos fugazes.