NÃO É TÃO BOM SER BOM

Não é tão bom ser bom

Como também não é bom ser tão mau

O bom tem os ossos frágeis; recuam às inverdades

Os maus morrem de velho, não têm idade.

Não é tão bom ser bom

Em demasia, bondade é certeza de esquecimento

Causa putrefação dos órgãos sensoriais e tinge de amarelo a vida

O mau solapa montanhas por onde o bom transita.

Não é tão bom ser bom

Tem as listras das ruas e avenidas, os degraus

Os maus se travestem de escada e hão, todas as noites, nas estradas

Nem o lume da retina é capaz de ser avistado por tempo santo.

Não é tão bom ser santo

Viver atado aos cantos, com a língua presa nos cordões

Sabe-se que quem come arroba de sal, exaspera-se

O mau é seqüestrado por bordões enquanto o bom navega e desliza.

Entre umas e outras fábulas, ergamos um brinde ao bom

Pois, sem sua pífia existência, o mau não sobressairia

Sem as lantejoulas de sua face, os mares não desfilariam tantos desafios

Contudo, não nos furtemos em agradecer o mau.

À hora dum recado macabro, o turvo vai à esquina ter com o insípido

Vai avisá-lo que a renitência de sua soberba bondade esvaiu-se

No que atina para o frio, ecoa sem sentir dor, e se transforma em ser

Notícias urgem aos berros, e rezam que o bom não vai nada bem!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 20/05/2008
Código do texto: T998204
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