E POESIA, O QUE É?

É o coleóptero que bate as asas e ruma ao céu

É a ventania que lambe as madeixas da pobre viúva

É a solidão amadeirada dum fel inenarrável

É a vida brotada duma árvore, donde urra o socó.

É distância, é lamento, é instar a amoreira a comer os desfrutes da vida

É a chuva plangente, sob o riso ardente, a pesquisar o dormitório

É ternura ou injúria a ceifar a fome dum desejo, é o medo

É recusa mastigada, é arco-íris, é viagem... É inveja!

Poesia é cavalo sem sela, imagem em falência

A entrada capciosa dum vernáculo, é despeito

É amor, é peito, é escada, é jeito

É oratória, é semântica, é hipérbole, é sintaxe

É o leito poético na frescura do cantar do colibri, do javali.

É imprecisão, é leveza, é jeito de dizer perdão

É sofrimento, é melancolia, é a jarra de manteiga embebida no pão

É a margem esquerda, é luxúria, é desvelo, é procura

Poesia é tudo que repõe com saliva, a dieta fria do nada

È novidade, é arpão, é a simples veste de um dragão.

É a mortalha rubra do ser imberbe, do ter inerte

É o pomo incandescido pelo raio da aurora, é pascigo

Por que não ousar que poesia é cinema, é mistério, é sincronia?

É a plena, pura e vasta autarquia a comer com as mãos cheias, o saibro noturno

É a vela que ascende no mastro e a dela que o respeito oculta.

É o liquor, o chorume, a azinhaga florida, a vereda pedregosa

É a enxada, a fragata à cordilheira, é um gesto banal

Poesia, meus caríssimos, é malha de vigor único, é o floema

É a tinta da ALMA que martiriza e encanta folhas em branco

É proeza, é juventude, é eternidade... É o ranço!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 20/05/2008
Reeditado em 20/05/2008
Código do texto: T998242
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