olhos enfileirados olham por trás da vidraça

Foi de repente, abruptamente,

que o claro se fez quase breu,

no relógio meia tarde

e um arrastar de móveis

atravessa o céu!

Toma conta denso medo,

toma conta um só desejo,

correr contra o tempo,

proteger, proteger-se...

Entrem em casa, crianças corram,

chamem o gato e o cachorrinho,

pega o vaso de gerânio

já tombado pelo vento,

trás p'ra dentro...

Guardem nas gavetas as tesouras enroladas,

com lençóis cubram os espelhos,

fechem janelas, tranquem as portas...

Estão a salvos...medo ainda...ventos loucos se atiram,

como querendo invadir, alcançar seu intento,

pelos céus grandes estrondos!

Silêncio...olhos enfileirados olham por trás das vidraças,

mais um pouco... para chegar o esperado!

E Chega... entre relâmpagos e trovoadas,

o céu todo em torvelinho

se despenca, água pesada,

como o abrir de comportas embaçando os claros vidros,

o infinito desaba, parece até que para o chão se transporta!

Se escuta em susurros, oratória socorrista:

"Santa Bárbara, São Gerônimo,

nos livrai das tormentas!",

no ar o cheiro do queimar da Palma Benta!

Mas dentro de cada Alma, se escuta um Eu dizendo:

"Isto não é castigo, simplesmente é um aviso,

é preciso que aprendam...

...que o Outro é Você,

numa outra situação,

e por isso é urgente

que coloquem compaixão

dentro do coração!

E então de repente, abruptamente,

como ilusória magia,

o céu devolve a luz do dia!