Bote falso em mar comprido.
Certa vez, posto ao mundo,
quiseram-me andarilhar
por aí, de mar em mar,
de terra em terra.
Caso é que carimbaram-me,
mediram-me, examinaram-me,
calcularam-me, receberam-me
e quase, quase enviaram-me.
Preparei-me até, desavisado.
Os papéis cruzeirísticos,
fronteirísticos e academísticos
todos, revirados de revira-volta.
A caminho de vário caminho
botariam-me já certos corações.
Lamento-os e rio-os, inocentemente;
tenho deles o mesmo gelo na espinha.
E mandaram-me, quando cá fixei-me.
Viajaram-me nos mares mornos e frios,
gelados fora do caminho, ou em terra,
onde os fundiários plantaram língua.
Coisa de admirar-se e espantar-se essa,
que se fez em tão magistral passeata,
e que não pica-me no âmago um remoer,
um relembrar, escrever, querida memória.
Gozado, não há nostalgia nos cheiros,
cores, ruelinhas fininhas espremidas
entre casarotes velhos, varinas,
vinhedos de vinhas de vinho – que coisa!
Que não aplaudira-me a claque,
está correcto e muito do acertado.
A nau nem tocara o mar, que dirá,
pois, os ondolejos do famoso porto!