Cinco horas.
Acordar culpado
É coisa do brado brasileiro.
É dividir por cem
Cada pedacinho do que tem.
É afundar no travesseiro,
Num peso de prédios inteiros,
E nas marteladas fazer as horas
Que a noite toma da produção.
Viver num corpo duro que levanta,
Todo espichado, maltratado,
Pelo café sem gosto e o leite gelado:
Os olhos vermelhos dum bem-domesticado.
Dizem que não é fácil.
Não é fácil segurar os trilhos nos ombros,
Sem mirar um horizonte em que se pise,
E ver o céu, oh! o céu! Limpo e livre de deslizes.
Quem é que diz, digam-nos, quem?!
Que o homem que salta cedo,
Da cama ao chão frio,
É que tem culpa do que nunca decidiu?
Nessa hora que as línguas negras das chaminés,
Os barulhentos explodires dos motores,
Os móveis das casas apontam e gritam:
Foi tu! Foi tu, desgraçado! É o culpado!
Quem que culpou esse coitado?
Que carrega o pão nas mãos,
Pois o homem sabedor descobriu,
Que o saco do pobre é que polui o rio.
Aquele, que na ponta do lápis fino calculou,
Que se jogasse culpa no cantinho da pirâmide,
Ela escorreria por baixo da saia da madame,
Indo molhar toda a roupa de corpo do povão.