Sinceridades.

Assusto-me, às vezes, com minha solidão.

Minto. Não me assusto, gosto até.

Assusta-me mesmo é não ser só

E gostar tanto de sê-lo – não posso.

Ai que me frustram os quereres saber,

À toa, só por saber. Pois é saber nada!

Querem o que penso…ora! Atrevimento!

O que penso é meu – e inda, vezes, me escapa!

Aqui vai algo que nunca minhas mãos riscaram:

Do mundo preciso só de comer, beber e morar.

Pra isso só que, vezes, não me apetece algum fazer.

De resto, se não tenho gosto, não faço – esqueçam!

Eu quero é o quarto vazio e escuro!

O cigarro e a cerveja trincando,

Que um me inflama a alma

E o outro me arrefece os nervos!

Eu quero umas páginas de livros livres,

Com gosto de livro, sem medição, sem cobrança!

Quero minha vida do avesso – enfureço-me!

Aí volto à minha casca e sorriem-me, em pasmaceira.

Não leiam maldades nestes versos!

Fiz-los sinceros – não é o que clamam tanto?

O que há mais belo que o sincero? Hein?

Que há que se diga que produza mais grado?

Ora! Di-los-ei: é o educado, o enfeitado.

Não o que matuta nossa cachola louca!

O que sai de nossas bocas e dedos são não-sinceridades,

São coisas do Diabo – graças a Deus que as são!

É nessa curva de rio que o dualismo vira dialética.

É nessa enxurrada turva que a gente se mergulha;

A correnteza leva sem piedade a humanidade toda.

O lodo, a lama, as únicas coisas que nos pregam – pior se fosse bosta!

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 25/06/2012
Código do texto: T3742976
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