Sinceridades.
Assusto-me, às vezes, com minha solidão.
Minto. Não me assusto, gosto até.
Assusta-me mesmo é não ser só
E gostar tanto de sê-lo – não posso.
Ai que me frustram os quereres saber,
À toa, só por saber. Pois é saber nada!
Querem o que penso…ora! Atrevimento!
O que penso é meu – e inda, vezes, me escapa!
Aqui vai algo que nunca minhas mãos riscaram:
Do mundo preciso só de comer, beber e morar.
Pra isso só que, vezes, não me apetece algum fazer.
De resto, se não tenho gosto, não faço – esqueçam!
Eu quero é o quarto vazio e escuro!
O cigarro e a cerveja trincando,
Que um me inflama a alma
E o outro me arrefece os nervos!
Eu quero umas páginas de livros livres,
Com gosto de livro, sem medição, sem cobrança!
Quero minha vida do avesso – enfureço-me!
Aí volto à minha casca e sorriem-me, em pasmaceira.
Não leiam maldades nestes versos!
Fiz-los sinceros – não é o que clamam tanto?
O que há mais belo que o sincero? Hein?
Que há que se diga que produza mais grado?
Ora! Di-los-ei: é o educado, o enfeitado.
Não o que matuta nossa cachola louca!
O que sai de nossas bocas e dedos são não-sinceridades,
São coisas do Diabo – graças a Deus que as são!
É nessa curva de rio que o dualismo vira dialética.
É nessa enxurrada turva que a gente se mergulha;
A correnteza leva sem piedade a humanidade toda.
O lodo, a lama, as únicas coisas que nos pregam – pior se fosse bosta!