São tantas as minhas certezas incertas
Quantas são minhas dúvidas solvidas.
E entre elas, as muitas portas abertas
São estações da minha linha de vida.
 
Tudo corre sempre pelo mesmo trilho
Tal como um trem único que vem e vai.
Pois o que hoje eu ensino ao meu filho
É o que ontem eu critiquei no meu pai.
 
A dúvida e certeza são irmãs siamesas:
Uma mora na cabeça, outra no coração,
No coração todas as coisas são certezas,
Mas na cabeça só o que temos é opinião.
 
A vida do homem é uma anedota jocoza.
Quando era jovem eu pensava saber tudo.
Com a idade toda certeza ficou duvidosa;
E estou mais sábio, pois já não me iludo.
 
Por mais unificado que um homem seja,
Sempre será o ser desdobrado em dois;
Dividido entre o que tem e o que deseja
Entre o que foi antes e o que será depois.
 
A existência é viagem que se faz sozinha,
E o nascimento é a sua estação primeira;
A morte é como o ponto final dessa linha,
Onde o corpo é trem, a alma é passageira.
 
E quando se chega na estação derradeira,
A gente vê que a viagem foi para nenhures;
O trem é desmobilizado e se torna poeira,
Mas o passageiro desce e vai para algures
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