AS MÃOS DA MINHA MÃE

As mãos da minha mãe

Coziam pequenos bolos de carne

Desenhados nas linhas da palma,

No vão dos dedos, em pura calma

Entre a mistura de seus temperos

Fazia-os sempre à mesma maneira:

Mil almôndegas modeladas

Em suas velhas mãos, enrugadas

E toda esta mistura errática

De carne, alho, óleo e sal

Resultava em festeira refeição

Com o desenho de sua mão.

Descobri, já em muita idade

Que as mãos da minha mãe

Modelaram não só minha fome

Na forma de seus bolinhos

Mais do que isso, saciava-me

O vazio do estômago

Afagava meu coração

Enchia, de amor, o meu âmago

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 14/01/2022
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