Camuflagem
A vida coseu-me um manto de coragem,
... pra esconder o escarlate das minhas feridas
Uma cena alusiva, reluzindo a roupagem,
tanta grandeza esconde dores antigas
Sob minha velha camuflagem, a alma grita
Juntando aqui e ali tantos remendos
Minha misérias, mazelas escondidas
... anos de trevas que carrego em silêncio
Tenho a face marcada pelo tempo
a alma mutilada em tantos pedaços
A feiúra exposta em raros momentos
... que só eu vejo, o peso dos meus andrajos
Minha camuflagem oculta o que desprezo
As roturas, as rugas a pele desnuda
Não quero me olhar desse jeito
Apego-me a roupagem que tudo isso oculta
Sigo metamorfoseando promessas minhas
que cuidaria desta minha veste corpórea
... mas a vida é tão cruel, cansativa,
que vai envelhecendo a cútis, o corpo, a história
... E sob essa forte camuflagem, nada é perdoado,
cada detalhe, carne exposta, marcada... existo!
O tempo urge, segue seu curso implacável,
sob este manto que me veste, resisto!