Dúbio ser

Esmiucei meu baú de memórias

Entreguei-me a exaustão

Divaguei até o romper da aurora

No disparate desta incursão

Virei este meu avesso hostil

Inundei-me do desconhecido

Tateei a derme quase febril

de sentimentos adormecidos

Era preciso voltear o ardor fenecido

Das lembranças torpes, dormentes

Busquei na fonte, meu eu esquecido

Confrontando este grito silente

Errei o verso, mastigando vãs palavras

Perdi o tom, nas areias dos meus desertos

Recuei ante a face de min'alma

Cambaleante entre vácuos e versos

Não encontrei pastos verdejantes

Encontrei sim o mais vil tormento

Minha nudez real dilacerante

Pulsando, evadindo o silêncio

Pousei minha face por um momento

Exaurida, sob a débil luz que adentrava

um ato de coragem... Olhar-se por dentro

Anuindo meu eu oculto sem máscaras

Dúbio ser que deu-me a mão

Das sombras de tantos matizes

Nas entrelinhas da veementemente convicção

Encarei sem medos minhas cicatrizes