Quadras de uma Alma despojada

Num tampo de mesa fria

escrevi da minha solidão,

amargas dores que sentia

como espinhos no coração...

Nessa dor que remoemos,

nesse querer e nunca ter,

há sempre alguém que não temos

nessas horas de sofrer.

À mesa do que não temos

nem a vida nos diz nada

só lembrando o que perdemos

dessa vida já passada.

À mesa do destino

vai passando a nossa história

meus cansaços de menino

'inda me toldam a memória.

Estes versos, por piedade,

tem minha dor por filha,

nesta mesa, na verdade,

só o nada se partilha.

Num doer que não esquecemos

num esquecer qu'inda nos dói,

o porquê de não morrermos,

desta ângustia que nos mói?!

Se eu pudesse tirar da mente

esta dor que me esvazia,

não era o poeta que hoje sente

neste tampo de mesa fria.