A Dama do Bambuzal

Estava Justino Octavio Maniri Dumlao cortando bambu na selva, próximo de sua choupana, quando avistou uma bela jovem, de longos cabelos negros e olhos cintilantes, vestindo uma baro't saya de seda branca. A visão era tão improvável naquele local ermo, que ele logo percebeu estar diante de uma divindade, provavelmente a protetora da montanha que se erguia mais além. A jovem acercou-se dele, sem qualquer temor, e perguntou:

- O que você faz no meu reino, Justino?

- Oh... você me conhece... então só pode ser Maria Makiling! - Exclamou ele, fazendo uma profunda reverência perante a entidade.

- Claro que te conheço, Justino - replicou Maria. - Tenho observado você todas as vezes em que entra na selva, mas não entendi o que quer fazer com todo esse bambu que corta.

- Estou levando para vender na vila, Maria Makiling - explicou o rapaz. - O prefeito pretende construir uma ponte sobre o riacho, e esse bambu é perfeito para isso...

Maria Makiling franziu a testa.

- Uma ponte, você diz? Para onde, exatamente?

- Vai cruzar a selva pelo sopé da montanha... é o caminho mais curto até a próxima vila.

A jovem cruzou os braços.

- Temos um problema, Justino. Eu não quero nenhuma estrada cruzando meu reino, derrubando minhas árvores e maltratando meus animais.

Justino coçou a cabeça.

- Mas o que posso fazer eu contra isso, Maria Makiling? Sou apenas um pobre cortador de bambu, não o prefeito...

A divindade olhou-o de cima a baixo.

- Quando vão ser as eleições?

- No final do ano.

- O que me diz de se candidatar?

- Eu? - Indagou o rapaz surpreso, apontando para o próprio peito.

- Claro. Você. Quem mais? Como eu disse, tenho te acompanhado desde a primeira vez em que entrou no meu reino. Você corta bambu, mas respeita a natureza; creio que não posso pedir mais de um prefeito... e nada de ponte ou estrada atravessando a selva!

- Mas Maria Makiling... sou muito pobre... não tenho condições de bancar uma campanha eleitoral - ponderou Justino.

A divindade sorriu.

- Você gosta de gengibre, Justino?

- Como todo mundo, Maria - declarou o rapaz.

E Maria Makiling entregou-lhe uma bolsa cheia de pedaços de gengibre, e lhe disse que, se tivesse fé, todos os seus problemas financeiros estariam resolvidos. Feito isto, entrou na selva e desapareceu. Justino sentiu então que a bolsa havia se tornado subitamente muito pesada. Quando olhou para dentro dela, viu que o gengibre havia se transformado em pepitas de ouro.

Nas eleições seguintes, o rapaz se elegeu prefeito, defendendo a plataforma do ecoturismo.

Maria Makiling nunca mais foi vista na região.

- [12-06-2019]