INGRATO DESTINO

INGRATO DESTINO

Em torno de uma pilastra os 3 jovens conversavam animadamente, observados a pequena distância pela única fêmea do grupo, amiga desde a infância dos demais. Era "papo de macho" (?!) embora fossem "fresquíssimos".

-- "Olha, meu bem, pau podre ninguém merece... eu sou muito seletivo, se não fôr rijo, limpo, bem oleado, dispenso na hora. Cansei de porcaria" !

-- "Hummm, a "boneca" hoje 'tá exigente" !!!

-- "Tô contigo, baby... outro dia o sujeito passou um óleo horrendo, empestou quarto e sala, um pavor, saí voando da casa. Vê lá se vou me sujeitar a isso" !

A mocinha interrompe a conversa, para completar:

-- "Eu também não admito mais qualquer coisa... nos tempos das vacas magras aceitava qualquer pau, agora só canadense, limpo, rijo, "branquinho", uma beleza. Teve uma vez que quase morri engasgada, o óleo tinha gosto de querosene. Fiquei roxa e, para uma bichinha como eu, não tem hospital, posto de saúde... me curei sozinha" !

Nisso fala o terceiro, lambendo um cepo negro e grosso:

Ah, esse pau é uma delícia, me recorda outro, lá de Paris, cheirando a sândalo e flor de lis. Jamais esqueci" !

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O rapaz que estudava naquelas mesas redondas antigas, de madeira maciça, deixa cair a caneta e, abaixando-se para pegá-la, vê o suporte do tampo todo carcomido. De alguns buraquinhos saem minúsculos insetos:

-- "Mamãe, o móvel rococó da "bisa" está cheio de cupins" !

-- "Eu sei, querido, já falei com teu avô, vai me trazer outro, de metal e tampo de vidro, esse monstrengo vai pro lixo, toma muito espaço aqui na sala" !

-- "Vou levar pra serraria abandonada lá no Engenho Novo e tocar fogo... esses "viados" desses cupins vão "pro inferno" !

"NATO" AZEVEDO (em 13/out. 2019, 20hs)