Zim é um enigma.

Em cima do muro, observo os dois meninos. São meninos bonitos. Eu vivo na floresta, mas hoje precisam de mim. De certa forma também sou um menino. Pés e bico de águia, mas corpo de menino. Em meus braços, penas. Fui atraído para este muro. Eu os vejo pela janela. A secretária também é criança. Ela me viu pela janela e ficou surpresa. Eu também fiquei surpreso, pois raras são as crianças que podem me ver. Mais raro ainda são os adultos.

O narrador me chama de Elemental. Um Elemental solitário da floresta. Não estou apto a discordar.

-- Ola Zim. Vejo que tomou a frente e me invocou antes que eu pudesse falar. Permita-me apresenta-lo aos leitores. Es uma entidade rara, bastante afeita as crianças humanas, cuja pureza lhe é familiar. És um Elemental de poder. Gostaria de falar mais de você Zim, mas mesmo para mim você é um enigma.

– Sinto o coração das crianças baterem, narrador. Sou como parte delas. Não penso, não falo, mas as amo. E o meu amor por elas pensa e fala em silenciosa paz.

-- Foste atraído, Zim e saíste pela primeira vez da floresta. Sabe por quê?

– Sinto algo estranho. Vim protege-los.

-- Sim. Você está ficando mais denso, algo está acontecendo. Talvez um perigo eminente.

– Tenho afeição por essa família, narrador, especialmente aos dois meninos, que não são irmãos, mas amigos.

-- Isto mesmo Zim. São amigos de infância. Estão agora perto dos 7 anos. O adulto é o pai do mais novo. Um homem bom, de palavra.

– Estou olhando pela janela. A secretária continua surpresa, mas não assustada. Ela sorri para mim. Ela me acha bonito. Não contou para ninguém, pois não quer que me machuquem. Meu instinto é de esconder-me, especialmente dos adultos, mas sinto que não tenho tempo para isso. Os dois meninos conversam. Estão animados.

-- Eles estão animados para o grande evento, Zim. Amanhã a professora vai desenterrar a mensagem dos ancestrais na escola.

– Vejo o adulto. Ele se aproxima. Parece me ver, mas não tem certeza. Agora conversa com os meninos. Avisa que terá um compromisso no trabalho. Que é inadiável. Que não poderá estar com os meninos no dia do esperado evento. O filho se zanga. Queria a presença do pai. Zangado, o filho aproxima-se da escada em reforma. Isso me deixa nervoso. Agora o adulto me olha nos olhos. Posso sentir o menino, que esta dentro dele, prestes a me ver. O menino dele também é bonito.

O filho triste esta em perigo, não há tempo. Salto e atravesso o pai que sente o impacto. A escada desmorona sobre o menino, mas já sou o menino. Pai e amigo me agarram felizes por te-lo salvo. Zim é o menino, narrador. Zim é o menino.

-- O menino esta a salvo, Zim. Tu és um Elemental protetor

-- Meu nome é Zim, narrador. Não penso, nem falo, mas amo. E é com o meu amor que eu as protejo.

-- Zim, você é um enigma.

-- Zim é um enigma, narrador.