OS CARIRIS

Resultado de uma miscigenação dúbia, os povos Cariris, foram dispersos mediante a opressão da colônia.

Tiveram a tez mosqueada nas chapadas e caatingas do Nordeste, tiritando sob a perseguição, enquanto caçavam tatus e veados mateiros para se nutrir. Esquivando-se da fome, da suçuarana e dos cães selvagens, proliferaram-se pelas paragens inóspitas. Bebiam o vinho da raiz de jurema para entrar em transe e fazer contato com o Deus Maior.

Nunca tiveram uma fé semelhante às doutrinadas pela teologia atual.

Nhanderuvuçu, o Deus Maior, cuspiu e fez brotar o primeiro humano, o mais primitivo Cariri.

Kuiussi, o ancestral dos Cariris, vingou por pouco.

Amau, sua mãe fora fecundada acidentalmente por um frade capuchinho, escatologista dissimulado de antropólogo.

O Capuchinho escatologista era "o homem de culhão grande". Ao optar pela profissão, seu pai, lá da Ibéria, lhe mandou uma missiva, dizendo que por cá, Terra dos Papagaios, sua vida seria uma bosta.

Gestante, a cunhã Amau, jamais devia contemplar uma obra do Grande Deus. Se isso viesse acontecer suas vísceras seriam espremidas e seu útero ressecado.

Do alto do céu precipitavam apavorantes fagulhas. O enorme meteoro, repugnante pedra em forma de cocô, fora evacuada numa das margens do Rio Opará. Era uma "obra" divina, excretada do alto firmamento. O Grande Deus direcionou a santa bunda e se aliviou. O augúrio portanto, significava extinção iminente daquele povo.

Amau tivera um encontro com o roncolho Capuchinho, cujas arremetidas lúbricas, apesar de proibidas, foram infalíveis. Mas deviam ser castigadas por Nhanderuvuçu.

O monge não deveria gerar filho, porque tinha apenas um testículo imenso no saco escrotrário, por isso foi chamado pelos nativos de "homem do culhão grande". Pelos regulamentos canônicos ele seria castrado ao ingressar no monastério. A cria, resultante da ocasional cópula, caso vingasse deveria ser sacrificada.

Foi portanto, abandonado na caatinga para ser devorado pelos cães selvagens.

Os Capuchinhos o acolheram e introduziram-no no mosteiro.

O meteoro-cocô foi removido para um museu longe dos olhares dos Cariris. Aí eles foram livrados do extermínio e se dispersaram pela caatinga.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 26/09/2021
Reeditado em 26/09/2021
Código do texto: T7350648
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.