Ritual
Camuflado sob o manto da noite o rapaz espreita as águas calmas e prateadas da Lagoa.
De repente, uma linda Iara de corpo escultural e rosto angelical emerge da água e sobe na pedra para banhar-se com a luz da lua.
Por segundos, tudo parece perfeito.
Então, a Iara aguça os sentidos, suas narinas se abrem e ela sente o cheiro do medo do intruso. Imediatamente, ela assume a forma de uma enorme serpente envolta em fogo e de cuja boca sai um grito esganiçado e medonho. Ela avança sobre o intruso e o enlaça carregando-o para dentro do redemoinho das águas, agora revoltas.
É quando, em desespero, ele grita: Valei-me nesta hora Dona Janaína!
Então, uma linda Janaína guerreira aparece das águas.
A Iara arremessa sua vítima em direção as margens.
Uma luta titânica se trava entre as duas rainhas, que mergulham e somem no redemoinho.
Depois, as águas se aquietam.
O sol já surge quando o rapaz retorna pela trilha.
Ele leva consigo a certeza de ter cumprido mais um ritual de desagravo, que deverá ser cumprido a cada mês de fevereiro, até o fim da sua vida.