O TREM DAS EMOÇÕES ( dedicado aos amigos poetas, Antonio Souza, Lumah, Iolandinha Pinheiro e Francisco de Assis Góis)

 

 

Estação cheia, o trem começa a apitar, última chance de embarcar. A Maria Fumaça expele a sua fumaça, ansiosa para começar o seu trabalho. As pessoas se acomodam, as rodas se agitam alegres já imaginando o atrito nos dormentes, era como cócegas em suas circunferências. O bilheteiro marca as passagens com cortesia. Os bancos confortáveis do comboio, parecem soltar puns, quando as pessoas sentam, de tão fofos. Um deles foi tão sonoro, que um menininho pôs-se a rir.

 

O trajeto entre Vila dos Sóis até à Cidade Mananciais dos Girassóis, durava mais ou menos quatro horas, era arborizado e, também passava por diversas plantações da mesma flor, era tudo tão lindo de se ver, que a viagem era muito prazerosa.

 

Passageiros e histórias de vida, assentados no mesmo vagão. Vou citar um caso simpático.

 

Dona Lumah toda serena e educada, tentava manter sob controle, o neto Francisco, que estava levando de volta para os pais, as férias já estavam no fim e, às aulas começariam na semana seguinte. Bem lá no fundo do seu coração, confessava para si mesma que estava até mesmo aliviada, pois o menino tinha bom coração, era carinhoso, mas, levado demais para os seus velhos anos rsss...enfim, poderia voltar à sua rotina pacata, sentiria falta do neto é fato, mas, quando ele vinha com os pais, o trabalho ficava mais dividido, sozinha foram vinte dias, onde quando ele dormia, ela praticamente desmaiava de cansaço. 

 

Logo à frente de Lumah e Francisquinho, estavam sentados, um senhor bem apessoado, com uma menininha comportada ao lado, provavelmente sua neta, que estava concentrada folheando um livro com muitas figuras, ela loirinha e tinha umas covinhas adoráveis, mesmo sem estar sorrindo. Lumah ouviu-a chamar o senhor de Vô Tonho e, ele respondeu...o que é Ioiô. Ela queria saber o que era um cavalo colorido com um chifre na testa. Dona Lumah já tinha lido para Francisquinho, uma historinha com o mesmo personagem. Gentilmente respondeu à menina, pois percebeu o avô titubear na resposta. Francisquinho se intrometendo na conversa, foi falando sobre unicórnio para Ioiô, sentando ao lado da menina. Para que ficassem melhor acomodados, o Senhor Antonio, sentou ao lado de Dona Lumah, se apresentou e logo estavam conversando, ela aliviada que o neto sossegara e ele, mais tranquilo por não ter que ficar quatro horas, respondendo às centenas de milhares de perguntas da neta.

 

Passadas duas horas do trajeto, os adultos resolveram lanchar. Os vagões tinham banheiro e, dois vagões para trás, tinha um vagão refeitório, onde poderiam se servir dos próprios lanches levados ou, pedir um café, chá, sanduíche, bolo e refresco. Mas, ambos tinham preparado os seus próprios farnéis, só pediram refrescos para as crianças e, para eles café.

 

 

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Entenderam-se tão bem, que quem via, imaginava que eram da mesma família. Dividiram os lanches, partilhando tudo por quatro. O bolo de banana coberto de suspiro, que Dona Lumah preparara fez sucesso, Ioiô e o Vô Tonho até repetiram, mas, os sanduíches de patê de presunto com queijo fresco, feitos no próprio sítio do Seu Antonio, também estavam deliciosos. Só perderam para a gostosura da inesperada companhia, era como já se conhecessem há muitos anos. Rian, contavam suas histórias, as crianças ficaram amigas num zás. Francisquinho, até segurou a mão de Ioiô, quando voltaram para os seus assentos. 

 

O final da viagem chegou rápido demais, Lumah e Antonio observavam calados os campos de girassóis, pareciam acenar para eles ou, abençoar aquela nova amizade. Antonio e Lumah eram viúvos e, pelos olhares que cruzaram ao se despedir, acredito que o Cupido fez alguma tardia travessura e, o amor estava flutuando no ar.

 

Trocaram telefones, estranharam não terem se visto antes, embora morassem no mesmo lugar. Talvez Antonio, fosse pouco até a Cidade, pois o sítio era mais afastado. O clima entre eles, com certeza, estreitaria aquela distância. As crianças se abraçaram e Francisquinho ficou vermelho, quando Ioiô lhe deu um beijinho na bochecha. Ah! Cupido...Cupido...você aprontou das suas mais uma vez...

 

 

 

 

* Imagens fonte -  banco de imagens e vilaalferes.com.br

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 28/09/2022
Reeditado em 28/09/2022
Código do texto: T7615851
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