CONSULTA INUSITADA

A seta do mouse trava na tela, Onilda, que trabalha há três meses na secretaria, tenta movimentá-la sem sucesso ao que decide reiniciar o computador. De súbito, nota uma mulher à sua frente que a cumprimenta e lhe pergunta sobre o andamento de um processo judicial. A servidora solicita que se aguarde a reinicialização do sistema de consulta. Dito o número do processo, a funcionária, após digitá-lo, aperta a tecla ENTER. Ao levantar a cabeça para informar sobre a fase em que o processo se encontra percebe que a mulher sumiu, o que a faz levantar da cadeira e se debruçar sobre o balcão constatando que a mulher não está agachada ou em algum trecho ao longo do corredor.

Intrigada, Onilda adentra as salas e pergunta aos colegas se viram alguém com as características daquela pessoa, fato negado por todos. À noite, em casa, esse fato misterioso lhe causa insônia, de modo a conseguir dormir apenas às três horas da madrugada, depois da segunda xícara de chá. No trabalho, resolve ir ao setor de arquivo de processos do prédio, pois se tratava de uma ação judicial protocolada há cinco anos e arquivada há três.

Ao folhear as páginas amareladas pelo tempo, Onilda reconhece na cópia da identidade da parte autora anexa aos autos o rosto da mulher atendida no pretérito dia, e ao buscar mais informações nos autos, assusta-se, na folha duzentos e trinta e sete existe uma cópia autenticada da certidão de óbito daquela mulher, anexada há três anos.

Surpresa com a situação, Onilda retorna à vara e conta o fato aos colegas, e um deles bem mais antigo naquela secretaria, afirma ter atendido algumas vezes aquela mulher. Ela comparecia à vara toda semana para perguntar sobre o processo e não deixou herdeiros ao partir deste plano terrestre.

Texto selecionado e integrante da coletânea Odisseias Literárias IV, do TRT7, em 2022.

Ilton Paiva
Enviado por Ilton Paiva em 13/11/2022
Reeditado em 10/10/2023
Código do texto: T7648974
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