Efeito Borboleta
Já era costume, antes de dormir eu fechava os olhos e saía do corpo nas asas da imaginação.
Assim, naquela manhã de noite mal dormida, resolvi esticar o sono, desliguei o despertador e me aventurei à luz do dia.
Inicialmente, assumi a forma de uma borboleta multicolorida. Posei numa flor e fiquei extasiada com o olfato apurado. Então, uma borboleta monarca resolveu me afrontar.
E aí queridinha? Estás te achando né?
Eu?
Sim, tu mesmo.
Neste momento, uma minúscula formiga se meteu na conversa.
Cai fora logo, te transforma em vespa ou abelha, a monarca não admite concorrentes e vai te devorar.
Sem pestanejar escolhi a forma de uma pequena mariposa e voei em direção ao reflexo do sol na vidraça de um ônibus em movimento. Colada no vidro andei um bom tempo sentindo o frescor da manhã no rosto. De repente, começou uma chuva fininha e o pó das minhas asas grudou no vidro.
Rápido, escolhe ser um pássaro.
O conselho veio de uma coruja lá do alto de uma enorme paineira junto ao terminal do ônibus.
Então, rapidamente me transformei em um lindo beija-flor batendo as asas incansavelmente.
Escolha errada – falou a coruja – vais virar presa dos teus predadores.
Puxa! Não posso assumir nenhuma forma bonita?
Não perde tempo, te transforma num pardal e cai fora, que lá vem a criançada da escola.
Dito e feito, sob a forma de um pardal, dei mais algumas voltinhas e comecei o trabalho de retorno.
Mas espera aí, como é que estes insetos me entendem? Como conseguem falar comigo? E que sabedoria demonstram? Pensando bem, acho que vou ficar mais um tempinho por aqui...
Dá para ver, que tu não és do nosso mundo – respondeu um besouro de chifre. Tua presença aqui não é bem vinda e pode alterar o equilíbrio do mundo em que vivemos. Lembra da teoria do caos? Tu não assistiu ao filme do Efeito borboleta?
Sim, assisti.
Então, pelo bem do nosso mundo, esquece a tua curiosidade e faz o grande favor de nunca mais aparecer por aqui.