Julia Zanetti - A rosa no domingo de manhã

Todos os dias, desde que nasci, minha família adorava me levar à casa da tia Maria. Lá era tudo tão lindo que era inacreditável, parecia até um lugar onde as princesas vivam antigamente. Consigo até me lembrar de quando minha mãe desabotoou meus caçados e pisei na terra pela primeira vez, tinha uma textura um pouco diferente, parecia até que eu estava em uma praia lotada de areia colorida.

Aos finais de semana, quando já tinha por volta dos oitos anos, vestia meu vestido todo florido, que inclusive era o meu preferido e ia direto para a padaria comprar os cinco pães que minha mãe pedia, e logo em seguida dava uma passadinha na floricultura. Eu costumava ir lá para comprar uma linda rosa e levá-la no domingo de manhã ao parquinho que havia na praça, mais ou menos perto da casa da minha tia.

Havia se passado cinco anos e sempre era a mesma rotina, mas isso, por incrível que pareça, não era chato, e sim muito divertido.

Certo dia, minha mãe teve que viajar a trabalho e meu pai foi ao seu escritório. Como eu era filha única, eu teria que ir a minha tia Maria, que era a única pessoa que havia por perto (além de meu pai, minha mãe e minha avó, que vinha apenas uma vez por mês para nos visitar e dar muitos presentes da cidade grande, que era onde ela morava). Catei todas as minhas coisas e já fui colocando em uma mochila grande, que apesar da aparência, estava leve. Uma semana... iria ficar fora uma semana até que minha mãe voltasse de seu trabalho.

Durante três dias, fiquei fazendo o que eu mais gostava, que era ler romances e escrever em meu diário aquilo que eu tinha percorrido durante toda semana. Era uma quarta-feira, minha tia não iria conseguir me levar até à praça, então teria que ir sozinha dessa vez. Para mim, seria tranquilo, pois gostava de ter um tempo sozinha. Estava na metade do caminho, quando me lembrei:

- Poxa, esqueci a rosa!

No dia anterior, eu havia separado uma rosa para levar até o parquinho, pois no domingo seria o dia que iria voltar à minha casa. Decidi não só fazer um caminho diferente, mas também ir com passos mais calmos, já que ainda era cedo, então cheguei um pouco tarde para recolher e levar as flores. Quando olhei para o meu relógio, já era 17:50, por isso comecei a correr para o meu destino, pois estava ficando muito tarde.

Quando cheguei lá, já com as flores em mãos, o sol já tinha se posto. Caminhei pelo local como já tinha feito outras tantas vezes nesses anos todos, tudo ali já era familiar. Cada árvore, cada túmulo, cada som, cada espírito.

Eu estava em casa.

Às 18:30, meu corpo subiu, assim como os demais, para o reino da magia, onde eu só ia uma vez por semana. Tinha aprendido esse ritual com a minha mãe, que aprendeu com a mãe dela. Eu retornaria naquele simples jardim para que eu pudesse proteger aquela rosa e devolve-la naquela terra cheia de energia boa, que mais tarde minha filha iria voltar para pega-la e ser protegida de todos os males, a cada domingo de manhã

Escrita Literária
Enviado por Escrita Literária em 17/06/2023
Código do texto: T7816030
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