OS TIPOS DA MINHA CIDADE

Naqueles momentos de reflexão, de lembranças do passado, que geralmente passo deitado na rede, no quintal, ouvindo músicas que gosto, retrocedo a memória e me lembro saudoso de algumas pessoas diferentes,curiosas e engraçadas que habitaram minha cidade de Mirassol (SP). Não sei se em outras localidades existiam tantos tipos assim, pois, na época, talvez a cidade comportasse quinze ou vinte mil habitantes e a proporção deles era grande.

Tínhamos o COTA COTOSO, ( até o nome é curioso ), um mendigo malcriado que, quando lhe negavam o que pedia, falava palavrões. Lembro-me do JAÚ, um negro de pouca estatura, que deixou uma frase que ficou famosa e, na época era verdadeira : " Comeu, meu filho, tem que casar !

O MANÉ GENIMACROCA, escrevia nas paredes palavras como o sobrenome que se deu, exemplo, Gentitrificas, Conterimortis, Gentiproléia, enfim um vocabulário " Sui generis ". Havia o PEREIRINHA, um mendigo com a cabeça raspada que, pasmem ! - falava inglês e francês. SAPICO não era mendigo, tinha família e tudo o mais, mas como dizem, era " escapa marcha ". Era louco por futebol e roubava galinhas por encomenda. Resolvia-se fazer uma galinhada, era só entrar em contato com ele, dizer quantas se queria e pronto ! Lá vinha o Sapico com um saco de estopa cheio de penosas. O pagamento era a sua participação na galinhada. Havia alguns, um tipo especial , que nunca trabalharam e viveram relativamente bem. Tinha o SÉRGIO BRÁS que fazia uma carteira falsa de fiscal da Prefeitura e cobrava propina de vendedores ambulantes que vinham de outras cidades para a quermesse do padroeiro. CONDE DE LUTÉCIA era o apelido dop Luiz, morador do Hotel Lutécia. Não sei como pagava o hotel e suas mordomias, pois tomava uísque nos bares e comia do bom e melhor,mas acho que vivia de pequenos golpes. Fazia amizade com os ricos com quem sempre se sentava nos bares. Quando um deles precisava de alguma coisa, por exemplo um projeto da casa, ele dizia que conseguia mais barato. Encomendava o trabalho, recebia do rico e não pagava o profissional. Além de favorecer seus amigos, pois fazia mais barato por não pagar, agradeciam-no, pagando o que consumia nos bares. Lembro do SACHA, bem excepcional, que andava com uma lata dessas de tinta batendo o dia todo, como se fosse um bumbo. Ia todos os dias da nossa cidade à cidade vizinha de São José do Rio Preto e voltava cerca de 24 quilômetros ( Ida e Volta ) e não aceitava carona de jeito nenhum. MANÉ MACACO andava limpo e bem vestido, pois uma família de posse o sustentava, mas ia diariamente no principal bar da cidade e pedia falando enrolado, um salgado e um guaraná para o primeiro que aparecesse. Ninguém lhe negava. O RINO pertencia a uma família tradicional e bem de vida, mas ficava o dia todo no alpendre da casa, enfiando os dedos no nariz. A criançada o insultava, então xingava, falando com dificuldade. Velho Varanda era já idoso e só andava com um guarda-chuva pendurado no punho. Quando os moleques mexiam com ele, metia o guarda-chuva no primeiro que se aproximasse. MESTRE era o apelido de um sapateiro que ficou com problemas psicológicos e metia-se a saber sobre tudo, daí o apelido. A galera ficava horas ouvindo suas aulas malucas. Não sei a razão, mas ele raspava as sobrancelhas e só andava de terno e gravata. Havia ainda o corretor de imóveis, SEU FREITINHAS , que tinha umas tiradas e frase " filosóficas " engraçadas. Uma delas : " Terra ruim e mulher gostosa acabam com a grana de qualquer um ".

Há muitos outros a citar, mas ficaria muito longo o meu comentário.

Abraços a todos do,

Auro.