Entornar I

Estava eu refastelada no meu mar imaginário, e repentinamente aparece-me uma alga com um soneto na crista.

Cheirava a vento e a sal.

As palavras eram todas caríssimas.

Custaram os olhos de todos os peixes do céu; o queijo que eu vi naquele rio preguiçoso; todas as solidões das cerejas caídas no deserto das falácias; mas ganhou o poema forma na clarividência das batutas regurgitadas.

Mas o soneto era tão igual, tão simétrico ao original que se confundia no infinito dos gritos simulados e mastúrbicos esquecidos num pasto de mudez atónita.

E os aplausos estalavam ostras na face traída da emenda disfarçada de caleidoscópio das letras.

A cada estalo, uma, à vez, caía no chão, descabelada em sotaque bratuguês.

E riam-se a bandeiras despregadas acenando com os dentes podres da galhofa à bela crista.

E a culpa era toda dele, do original.