DO CONCEITO DE ARTE À CULTURA CRISTÃ

A partir das primeiras manifestações artísticas, o homem foi redefinindo o conceito de arte

No processo de produção de conhecimento, o homem foi obrigado a desenvolver suas primeiras experiências de vida. Diante dessas experiências, surgiu o sentimento, característica que o difere de outros animais, e que o levou a desenvolver manifestações para demonstrar as emoções. A essas manifestações, dá-se o nome de “arte”. Resumindo, a arte é a manifestação dos sentimentos do ser humano, a forma de expressar por meio de objetos, esculturas, pinturas, o universo de suas emoções.

Os primeiras indícios artísticos surgiram no Período Paleolítico, tendo como evidência as pinturas nas cavernas que retratavam elementos naturais, ou seja, a visão que o “homem das cavernas” tinha do meio em que vivia. As pinturas, desenvolvidas com apenas contornos ou cores brilhantes, revelavam uma visão fantástica da vida. O pintor do período supunha ter poder sobre o animal desde que o representasse inferiorizado, como é o caso do “Bizão Ferido”, encontrado na caverna de Altamira, Norte da Espanha. Em virtude do desconhecimento do homem na participação do processo de reprodução, era concedida à mulher uma idealização divina, sendo elas assim apresentadas. Ainda na Pré-História, na Idade da Pedra Polida – Neolítico – ocorrem grandes transformações na história da arte. O homem começa a abandonar o estilo naturalista e inicia a representação de sua vida coletiva, surgindo uma idéia de movimento por meio da imagem fixa, como danças, que poderiam estar ligadas ao trabalho de plantio e colheita. A primeira forma de escrita também data-se desse período, baseada na remodelação da natureza pelos desígnios, desejos e da satisfação interior do ser humano, e que consistia na representação de seres e idéias por meio do desenho. Mais tarde, essa satisfação seria chamada pelos gregos de prazer estético. A preocupação com a beleza fica evidenciada nas artes em cerâmicas. As construções de moradias de pedras (dolmens) são consideradas uma das primeiras obras de arquitetura que a história registra.

Ao descobrir sua capacidade de adaptar-se ao mundo, o homem começa a se tornar civilizado, descobrindo-se agricultor e organizando a sociedade em que vive. Como elementos da estrutura do poder, há a união da força física e das idéias e, como fruto desse trabalho intelectual, surgem os primeiros sinais sagrados.

Na Antigüidade, as manifestações artísticas das chamadas grandes civilizações iniciaram-se na Mesopotâmia, onde ainda não havia um conceito definido. A arte, assim como a música e a dança, consistia num elemento da religião, vista também como um instrumento do poder. A ética da religiosidade não era bem definida, não havia uma concepção de separação entre o bem e o mal, reverência a Deus e ao Demônio. Notava-se um tratamento especial para os olhos, vistos como as janelas e as portas da alma. A arquitetura caraterizava-se pela presença de argila em substituição às pedras, como os Jardins Suspensos da Babilônia.

Os egípcios pensavam na vida como uma espécie de penitência e não como uma dádiva divina, o que os levavam a uma preparação para a morte, considerada a grande ideologia do povo. Assim, surgiram uma das mais importantes manifestações arquitetônicas de arte: as pirâmides ou suntuosos túmulos dos faraós. A partir da 4ª dinastia, as pirâmides foram substituídas por túmulos menos suntuosos, caracterizando-se como artes convencionalistas. Foram também os egípcios que iniciaram a trabalhar os “capitéis”, que mais tarde influenciariam os gregos. Nota-se na arte egípcia a exposição das figuras com os rostos de perfil, contudo com os olhos, também vistos como as janelas da alma, e o corpo, em virtude do posicionamento do coração, apresentados de frente. As esculturas, sempre talhadas em pedra, tinham a caraterística de serem pintadas com cores berrantes.

O Classicismo, ideal de beleza e perfeição, representou o apogeu da arte grega. Apesar da importância artística dos egípcios, foi na Grécia que surgiu o conceito contemporâneo de arte, tratando-se de uma visão racional, uma tentativa de explicar o mundo pela razão e não pelos sentidos (mítico, místico, religioso e esotérico) presentes nas culturas anteriores. Contudo, o pensamento racional ainda não consegue se libertar dos pensamentos anteriores. A arte grega teve a egípcia como a maior fonte inspiradora, aplicando a mesma simetria natural para representar o corpo humano,porém com uma anatomia diferente, mais desenvolvido e com mais vivacidade. A força física era considerada o padrão ideal para modelar o corpo masculino, e indicava uma preparação para a guerra. Pelo fato de não ter uma função religiosa a exemplo do Egito, a arte pôde evoluir livremente. Os templos, considerados como as casas de Deus, são as edificações que mais despertam interesse na arquitetura, mais influenciada pelos cretenses e constituída por três ordens arquitetônicas, termo utilizado somente em relação à arquitetura grega: dórica, jônica e coríntia. O teatro de tragédias e comédias, como manifestação artística, também surge na Grécia.

A mitologia, ou seja, todo o pensamento possível para explicar os acontecimentos até que haja uma teoria racional, teve a sua origem nas tradições gregas como cultura oral, transformada em literatura pelo precursor Homero (fato ou lenda), que escreveu “Ilíada” e “Odisséia”. Pela importância da mitologia no mundo antigo e até no contemporâneo, a mitologia pode também ser vista como uma manifestação artística. Uma importante característica no estudo mitológico é a representação de deuses com a imagem e semelhança dos homens. Se Homero constitui a fonte primária para o estudo da mitologia grega, Hesíodo também merece destaque, por retratar em “Teogonia” a criação do mundo na visão de seu povo. Do conflito de duas forças antagônicas, o Caos, entidade não material, e o Eros, que representava a união e a ordem, nasce uma entidade física denominada Gaia, a deusa terra.

Pelas poderosas estruturas coercitivas (força física e ideológica) presentes no Império, os romanos estruturam seu poder. Da união dessas forças, surgiu o “Direito Romano”, cujos princípios estão presentes na vida do ser humano até a atualidade. A maior manifestação artística da arte romana é a arquitetura, clássica do ponto de vista formal e voltada à exaltação do Império na visão do conteúdo. O Coliseu, enorme anfiteatro no centro velho da cidade e o Pantaleão, templo dedicado a todos os deuses, são exemplos da engenharia arquitetônica. Em Pompéia, encontram-se os últimos vestígios de afrescos, técnica úmida de pintura em paredes que imitavam painéis e cenas arquitetônicas, como testuras naturais de pedra ou figuras não abstratas. Em pinturas encontradas na Casa de Ivete, a manifestação dos desejos carnais do homem é representada de maneira explícita para os padrões da época. Exageradamente apaixonados pela cultura grega, os romanos acabaram trabalhando os mesmos temas

clássicos.

A religiosidade constituía um dos pontos vulneráveis do Império, que não a impunha aos povos conquistados justamente pelo fato de não ter uma religião definida. Com o surgimento e a longa perseguição ao Cristianismo, perdura em Roma durante vários séculos um classicismo decadente, acompanhado de uma nova cultura e manifestação artística em ascensão, a paleocristã ou primitiva cristã. Inicialmente, durante a repressão romana, a única forma de arte que merece destaque são as pinturas nas paredes das catacumbas subterrâneas, utilizadas pelos cristãos para enterrar seus mortos e para pregações. O fim do Império Romano do ocidente e o início da Idade Média marcou o triunfo do Cristianismo, após ser oficializado pelo Imperador Constantino. A arquitetura do período foi marcada pela construção de igrejas. A escultura teve um papel secundário devido à proibição de imagens contidas no Velho Testamento, restringindo-se a formas pequenas que retratavam passagens e temas bíblicos. Os sarcófagos construídos para os membros mais ricos da congregação são considerados as primeiras esculturas cristãs.

Após a oficialização do Cristianismo e o surgimento da arte paleocristã, outras manifestações foram surgindo como a cultura bizantina (Império Romano do Oriente), nome referente à cidade de Bizâncio que foi alterada para Constaninopla em homenagem ao imperador Constantino. No Ocidente, segue uma cultura hemogênea chamada de arte românica, tendo a literatura como a grande manifestação da época. Por fim, a arte gótica, surgida na Europa Setentrional, expressada principalmente pela construção de suntuosos reinos medievais.

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JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 03/02/2006
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T107667
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