Ilha das fores

Título: Ilha das flores

Diretor: Jorge Furtado

Ano: 1989

O filme se inicia contando a história de um plantador de tomates, que troca sua colheita por dinheiro em supermercados e através deste uma dona de casa troca seu dinheiro por uma parte destes tomates, dinheiro este que lucrara com a venda de perfumes a um preço maior do que foram adquiridos numa fábrica, estes tomates são utilizados para fazer molho para temperar o porco que também foi adquirido pela troca por dinheiro no supermercado, os tomates que não servem para o molho são jogados no lixo, que são recolhidos e levados para um lixão em Porto Alegre, chamado Ilha das flores, que por sinal quase não se tem flores, lá se separa todo o lixo orgânico dos demais, para alimentação dos porcos que lá vivem, nem todo o alimento é julgado como utilizável para a alimentação dos porcos, então o que sobra é distribuído para a população que vive neste local e não tem dinheiro para adquirir sua alimentação, este grupo é separado pelo dono do terreno e dos porcos, de dez em dez, com um tempo estipulado de cinco minutos para o recolhimento destes restos de alimentos.

Este filme trata sobre o sistema capitalista em todas as suas variantes, fazendo-nos refletir sobre uma realidade pouco divulgada.

A idéia de seus realizadores foi de nos por a par da grande verdade que nos envolve, de um sistema cruel e egoísta, onde cada um vale o que tem e só quem tem dinheiro consegue se sobressair, enquanto os menos favorecidos ficam com as migalhas, isto é, quando estas migalhas realmente não servem para alimentar o sistema.

Em outros tempos quando não existia a troca de produtos por dinheiro, o homem era menos egoísta, pois produzia para seu consumo e o que restava era trocado pela produção de outro homem por produtos que satisfaziam suas necessidades físicas. Hoje no atual sistema capitalista isto não acontece, pois, o homem passou a acreditar que o valor do dinheiro lhe dá poder. Com isso, o acúmulo de capital tornou-se uma busca constante entre os seres humanos, deixando em segundo plano a questão moral.

Fala-se tanto em religião, em cidadania, em ética, mas pouco se coloca em prática.

O consumismo é desenfreado, o lucro é sempre o objetivo principal independente de outro ser humano ser prejudicado por isso. Onde está a prática da religião, se a vida de outros seres humanos não é a principal preocupação?

A produção de lixo em demasia também é resultado do excesso de consumo e da falta de consciência em relação ao bem estar social. Onde está o exercício de cidadania, se pouco importa a qualidade de vida e o meio ambiente onde vivemos?

O governo não tem a preocupação de restringir a fabricação e o incentivo maciço de consumo a produtos que coloquem em risco a saúde e a segurança da sociedade, como por exemplo, a fabricação de cigarros, álcool, fast food, carboidratos industrializados (biscoitos, bolachas, salgadinhos) etc. Com isso, lucra-se o empresário que tem uma alta demanda de seus produtos e o governo que arrecada um alto valor em tributos, tributos estes que são elevados proporcionalmente ao grau nocivo de determinados produtos. Onde está a ética, se as atitudes dos mais poderosos são inescrupulosas?

O filme apenas reforçou conceitos já existentes em minha forma de analisar os comportamentos no sistema capitalista, e comparando com minha vida pessoal, sempre procuro agir de forma a não prejudicar o meu semelhante e muito menos a sociedade que me cerca, respeitando sempre seus valores e condições sociais. Profissionalmente procuro me adequar ao sistema, já que dependo dele para garantir minha sobrevivência, mas sem abrir mão de minhas convicções e valores.

Portanto, sabendo-se que o ser humano é um animal bípede, dotado de cérebro altamente desenvolvido, capaz de armazenar inúmeras informações e processá-las e, também dotado de polegar opositor que é responsável por uma habilidade única, características estas que os diferem do animal irracional, será que o ser humano nas suas atitudes, é racional?

Na música dos cantores e compositores Roberto Carlos e Erasmo Carlos de título “O progresso” há um trecho que diz “Eu queria ser civilizado como os animais”, passa nitidamente seu sentimento de indignidade com o comportamento do homem no mundo moderno no sistema capitalista, onde os valores estão invertidos. Os animais irracionais agem por instinto, ou seja, não são dotados de consciência, mas são capazes de viver em harmonia, respeitando o equilíbrio da fauna e a preservação da espécie. Enquanto o homem age pela razão e é esta mesma razão que o leva a ser individualista e a não se preocupar nem mesmo com a continuação de seus descendentes.

Cintia Pereira Jeronimo
Enviado por Cintia Pereira Jeronimo em 21/09/2008
Código do texto: T1190009
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