COTAS: PARA ALÉM DO SER CONTRA OU A FAVOR.

COTAS: para além do ser contra ou a favor.

Apesar do intenso debate envolvendo esta questão, não é novidade para ninguém a constatação de que muitos são contra ou a favor, baseados no que ouviram dizer ou no “senso comum”, sem uma reflexão mais elaborada e radical sobre este assunto. Deste modo, dentre as opiniões mais comuns pode-se citar a daqueles que são contra pelo fato que isto somente viria marginalizar de vez o negro, discriminando-o ao invés de ajudá-lo. Afirmam estes: “se o negro é tanto quanto inteligente em relação ao branco, então não se deve ter cota, eles devem concorrer de igual pra igual”. Outros ainda buscar questionar: "Não estaria a cotas afirmando a inferioridade do negro em detrimento do “branco”". Contudo, é preciso que saibamos que todo julgamento de valor para ser coerente deve estar ligado a um contexto maior, nenhum fato explica-se por si mesmo. Logo é preciso termos presente o que a história tem a dizer sobre este assunto. Resumidamente, já na Constituição de 1824 pode-se perceber que todos os brasileiros são considerados cidadãos, menos os escravos. Após anos de escravidão, de desprezo, de usurpação da própria alma do negro, de trabalhos forçados sem direito a nada, sendo tratados como “coisas”, (...) enfim em 1888 os negros foram “libertos”. Sem preparo foram “libertados”, ou melhor abandonados a própria sorte. Diga-se de passagem que isto aconteceu devido aos interesses imperialistas britânicos uma vez que escravos não recebem salários e sem dinheiro não há como fazer a mercadoria circular. Já em 1850 a Inglaterra devido a seus interesses imperialistas, havia proibido o tráfico negreiro.

Não obstante, apesar do fato de alguns negros após a “famosa libertação” terem conseguido galgar espaços no mundo capitalista, a grande maioria continua excluída e distante do “seu lugar ao sol”. Se foi pelo esporte, pela música, que alguns negros se sobressaíram não vêm ao caso neste momento. A questão é que para ser justo neste mundo injusto o mais correto deveria ser o atrelamento das cotas por raça as cotas sociais. Honestamente é preciso admitir que alguns negros não necessitam mais destas cotas. Existem muitos “brancos” que atualmente estão a sobreviver em condições muito mais indigentes do que muitos negros. Portanto, não está de modo algum equivocado os devedores das cotas sociais. Mas qual o sentido das cotas? Porque privilegiar alguns em detrimento da maioria? Que interesses capitalistas estão por trás das cotas? Indagações desta envergadura são de fundamental importância para não incorrermos no erro de que as cotas resolverão as mazelas sociais engendradas por uma sociedade organizada econômica, social e política baseada na acumulação de riquezas de uma minoria em detrimento da maioria.

Destarte, estas discussões em torno da legitimidade ou não das cotas servirá para estimular ainda mais a concorrência e a desunião entre as pessoas das classes menos favorecidas ou não. Logo, é preciso que estejamos atentos, pois esta pode ser apenas mais uma das estratégias do capital para fragmentar, enfraquecer a luta pela superação desde sistema capitalista, onde para uns ganharem outros necessariamente devem perder. Só assim, o que for de interesse do ser humano virá antes da voracidade por lucro. Devemos estar atentos ao essencial, ou seja, não podemos perder de vista que a luta deve ser pela superação do império do capital. Acreditamos que os seres humanos já evoluíram suficientemente para perceber que se faz indispensável à construção de uma nova organização social que não careça da luta por reservas de cotas, pois, a vida enquanto direito universal foi assegurada para todos no “chão” deste nosso súbito existir.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 19/11/2008
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