Do filme "A Massai Branca"

Este filme baseia-se numa história real vivida por Corinne Hofmann, nascida em 1960 em Frauenfeld filha de mãe francesa e pai alemão, na qual essa mulher se apixona por um guerreiro massai residente numa tribo queniana.

A preocupação do diretor não é tanto mostrar o como se deu tal enamoramento, mas sim, fazer com que a atenção dos telespectadores se volte para os choques culturais ocorridos entre esse dois mundos culturais tão diferentes entre si, a saber, o mundo da mulher branca (ocidental, "civilizado") e o mundo do guerreiro (tribal, "incivilizado"), ao longo da trama.

Assim montada, a trama se desenvolve a partir desse jogo dialético e conflituoso que é o cruzamento das culturas que, de um lado, tem como representante a mulher branca detentora de um cultura, aparentemente "avançada, tecnizada, evoluída" e, de outro, o guerreiro massai, representante de uma cultura tribal não-tecnizada e não-evoluída.

Contudo antes de prossegui convém esclarecer o que se entende por cultura para que não se crie nenhuma errônea impressão.

Há duas definições para o termo cultura, uma subjetiva e outra objetiva. Entendida subjetivamente ela é "o exercício das faculdades espirituais, mediante o qual elas são colocadas em condições de dar frutos mais abundantes e melhores que sua costituição natural permita" (Battista Mondin). Ao passo que entendida objetivamente, ela é os "frutos adquiridos". ( Mondin). Essa sutileza de percepção é de grande diferença. Ora, a primeira enfoca o ato de possuir e a segunda, o proprio fruto do exercício.

Antigamente esse termo era usado principalmente pelo povo helênico, como a formação do homem. Recentemente, este termo vem sendo utilizado numa acepção cunhada no século XVIII segundo a qual designa "o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados e polidos, que também costumam ser chamdos: civilização" (Nicola Abbagnano).

Já delimitado o entendimento sobre o termo cultura é oportuno nomear os choques que ocorrem ao longo da trama. Deste modo, podemos classificá-los como processos de inculturação e de aculturação. Por inculturação se entende aquela "proximidade respeitosa em face da alteridade" (Márcio Fabri). Já por aculturação se entende como aquele processo mediante o qual "faz-se assumir uma cultura por alguma coisa, ou seja, inserir algo (doutrina, ideologia etc.) em determinda cultura já dada" (Mondin).

Então, quando, nesse filme, é relatada a abertura da loja por parte da mulher no seio da tribo, não está acontecendo um processo de inculturação, pois, esta, não está se aproximando daquela cultura na qual se insere de modo respeitoso, antes está impondo sua visão de como resolver os problemas de escassez de alimentos e de outrod. Contudo, nesse interim, está acontecendo um processo de aculturação, já que, ela, ao impor o seu modo de resolver tais problemas, insere em tal cultura a ideologia que lhe é própria sem ter consciência disso, haja vista ser produto e produtora da cultura da qual faz parte.

A cultura por ser um produto humano é social, laboriosa, sensível, dinâmica, múltipla e criativa. Então, para que alguém não fira ou inter-fira um produto que lhe é alheio deve antes levar em consideração esse conjunto de significados e valores que enformam, isto é, dão a matiz e a forma de determinda cultura e, assim, considerado vá ao encontro do outro que se dá a conhecer do contexto que o encerra.

Dranem
Enviado por Dranem em 06/02/2009
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